Uma equipe da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) que circulava pela região etíope de Tigré, cenário de um conflito armado, foi testemunha de soldados etíopes executando civis e atacando violentamente um motorista, que foi ameaçado de morte, anunciou a ONG nesta quarta-feira (24).
De acordo com um comunicado da MSF, três de seus membros circulavam na terça-feira em um veículo identificado com as cores da organização em uma estrada que liga a capital de Tigré, Mekele, à cidade de Adigrat.
"Durante a viagem, eles encontraram o que parecia ser o resultado de uma emboscada armada contra um comboio militar etíope por um grupo armado, na qual soldados foram mortos e feridos", explicou Karline Kleijer, chefe dos programas de emergência da MSF em comunicado.
Soldados etíopes pararam o veículo da MSF e dois micro-ônibus de transporte público que o seguiam, explicou. "Os soldados forçaram os passageiros a descer. Os homens e mulheres foram separados e tiveram permissão para sair. Pouco depois, os homens foram mortos".
A equipe da ONG teve permissão para deixar o local, mas seu veículo foi novamente parado por soldados etíopes pouco depois.
"Eles retiraram o motorista da MSF do veículo à força, bateram nele com a coronha de seus rifles e ameaçaram matá-lo. No final, eles o deixaram voltar para o veículo e a equipe conseguiu voltar para Mekele", contou Kleijer.
Em 4 de novembro, o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, lançou uma ofensiva militar em Tigré para derrubar os líderes do partido governista Frente de Libertação do Povo de Tigré (TPLF), que há meses desafiava o governo e é acusado de realizar ataques contra bases do exército.
Abiy, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2019, proclamou o fim do conflito depois que o exército tomou Mekele no final de novembro. No entanto, os líderes da TPLF, que fugiram, prometeram continuar a luta, o que de fato aconteceu.
Na terça-feira, Abiy reconheceu que atrocidades foram cometidas em Tigré como "estupro e saque de propriedades".
Alguns residentes relataram casos de violência sexual em grande escala e assassinatos de civis pelas forças que lutam contra a TPLF e Abiy admitiu que a Eritreia enviou soldados para a região.
* AFP