Dana Gavrinevova, professora de Educação Física em um colégio de ensino médio de Praga, observa com angústia seus alunos, obrigados a terem aulas a distância, mergulhados cada vez mais na letargia e ganhando peso.
Os especialistas tchecos, assim como os de muitos outros países, têm feito alertas nesse sentido, diante da crescente evidência de que o confinamento está fazendo da obesidade infantil a norma, após o fechamento das escolas em outubro passado.
"É realmente horrível. Algumas crianças não saem de casa há semanas. Elas simplesmente se levantam e ligam os computadores", disse Gavrinevova à AFP.
Zlatko Marinov, especialista em obesidade infantil do Hospital Motol em Praga, vê uma verdadeira crise se aproximando. Segundo ele, a proporção de crianças classificadas com sobrepeso se manteve "estável" antes da pandemia, em torno de 25%, e delas, 60% consideradas obesas.
"Agora essas proporções vão aumentar, e 80% das crianças com sobrepeso serão obesas. Tememos que seja uma obesidade grave com complicações metabólicas", alertou Marinov.
- Fechar escolas é um 'erro' -
A República Tcheca registra o maior número de novas infecções a cada 100.000 habitantes nos últimos 14 dias, e a taxa de mortalidade fica atrás apenas da vizinha Eslováquia, segundo balanço da AFP.
O governo, que reporta cerca de 1,2 milhão de casos de contágio e em torno de 20 mil mortes, fechou restaurantes, grande parte das lojas e de centros esportivos e escolas. A exceção são a pré-escola e os primeiro e segundo anos do ensino fundamental.
"A diminuição da atividade física de crianças e adultos, devido às restrições do governo, é clara", disse Jiri Suchy, professor de pedagogia esportiva na Universidade Charles, de Praga.
Segundo ele, o governo cometeu um "erro" ao fechar escolas e incentivar os moradores a ficarem em casa.
"A proibição das aulas esportivas, dos esportes coletivos e do treino tem, claramente, um impacto nefasto na forma física (...) de crianças e jovens", disse Suchy à AFP.
Em seu relatório mundial sobre o estado da infância de 2019, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) já havia alertado que a obesidade infantil continua aumentando e que a proporção de crianças com sobrepeso de 5 a 19 anos pulou de 10% para quase 20% entre 2000 e 2016.
Essas crianças apresentam um maior risco de sofrer de diabetes tipo 2 e de serem estigmatizadas, assim como de desenvolverem depressão e obesidade na idade adulta.
As doenças relacionadas com a obesidade, como problemas cardíacos e diabetes, encontram-se entre as causas mais comuns de morte, ou de incapacidade para trabalhar nos países desenvolvidos.
O governo tcheco planejava reabrir as escolas a partir de março, mas, com o aumento de casos de covid-19, mudou de ideia.
"As crianças devem voltar para a escola o mais rápido possível, com medidas de segurança, mas com atividades esportivas", insistiu Marinov.
As crianças, que se encontram em constante evolução, "nunca aprenderão uma atividade física razoável em casa".
* AFP