Centenas de manifestantes se reuniram nesta sexta-feira (5) diante de uma universidade de Yangon, no maior protesto registrado até o momento contra o golpe de Estado em Mianmar que derrubou, nesta semana, o governo civil de Aung San Suu Kyi, enquanto o Exército continua prendendo políticos e ativistas.
Os manifestantes, em sua maioria professores e alunos, fizeram a saudação com três dedos da mão levantados, um gesto de resistência, enquanto cantavam uma música que se tornou popular durante a revolta de 1988, violentamente reprimida pelo Exército birmanês. Também pediram "longa vida à mãe Suu" Kyi, vencedora do Nobel da Paz de 1991.
— Enquanto (os militares) conservarem o poder, não vamos trabalhar. Se todos fizerem isto, o sistema vai cair — declarou Win Win Maw, professor do Departamento de História.
Funcionários de vários ministérios interromperam temporariamente o trabalho na capital Naypyidaw e exibiam uma fita vermelha, a cor do partido de Aung San Suu Kyi, a Liga Nacional para a Democracia (LND).
Os generais prosseguem com as detenções, apesar das críticas internacionais. Quase 150 líderes políticos foram presos, de acordo com a Associação de Assistência aos Presos Políticos, uma ONG com sede em Yangon.
No Facebook, porta de entrada na internet para milhões de habitantes, foram criados grupos que defendem a "desobediência civil". Como resposta, o Exército ordenou na última quinta-feira (4) que os provedores do país bloqueiem o acesso à plataforma. Nesta sexta, os serviços continuavam instáveis.
Repercussão internacional
Os eventos em Mianmar provocaram inquietação internacional. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu na quinta-feira aos generais birmaneses que "renunciem ao poder" sem condições, enquanto seu governo cogita adotar "sanções específicas" contra os militares golpistas.
O Conselho de Segurança da ONU expressou "profunda preocupação" e pediu a "libertação de todos os detidos". O texto, redigido pelo Reino Unido, não condena o golpe militar, como contemplava o primeiro rascunho. China e Rússia, que têm poder de veto, foram contrários a uma condenação explícita. Pequim continua sendo o principal apoio de Mianmar na ONU.