O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, assegurou em uma entrevista coletiva nesta terça-feira (10) que a decisão do atual governo Donald Trump de bloquear a cooperação com sua equipe de transição não terá muita consequência. Segundo ele, o trabalho da sua equipe na preparação do novo governo já começou e há muita coisa a ser feita, afastando a possibilidade de recorrer à Justiça para ter acesso a documentos nesta fase.
Biden disse que já recebeu o apoio de inúmeros republicanos e entende a posição daqueles que se alinharam a Trump neste momento, como o líder da maioria republicana Mitch McConnell, que na segunda-feira (9) defendeu o direito do presidente de contestar a eleição. Segundo o democrata, há uma pressão neste momento dentro do Partido Republicano para se defender Trump, mas ele disse acreditar que terá o apoio de todos a partir de 20 de janeiro, quando assumir.
— Só existe um presidente de cada vez. E agora Trump é o presidente — disse.
Questionado sobre qual a mensagem dele diante da recusa do republicano em reconhecer a derrota, depois que o democrata conquistou mais que os 270 votos no colégio eleitoral necessários para ser presidente, Biden classificou a postura como "uma vergonha" para Trump.
— Isso não ajuda em nada seu legado como presidente — afirmou.
Biden convocou uma entrevista coletiva em Wilmington (Delaware) ao lado de sua vice, Kamala Harris, para se posicionar sobre a audiência da Suprema Corte para avaliar uma nova tentativa do governo Trump de invalidar a Lei do Cuidado Acessível (ACA, na sigla inglês), mais conhecido como Obamacare.
Tanto Biden como Kamala destacaram que o fim do Obamacare neste momento deixaria milhões de americanos desamparados em plena pandemia de coronavírus, que já tirou a vida de mais de 238 mil pessoas no país. Biden prometeu trabalhar pela ampliação do amparo à saúde nos EUA, mesmo se a lei for revertida.
— Essa não é uma questão partidária, é uma questão humanitária — disse Biden. — Para muitos americanos, é uma questão de vida ou morte.
Mas, na audiência de hoje, a Suprema Corte indicou que manterá pelo menos a maior parte da reforma da saúde. O processo diz respeito a um pedido do presidente Trump e de outros governos de Estados republicanos para tentar desmantelar o programa.
O tribunal começou a ouvir os argumentos do Executivo sobre a constitucionalidade da lei, aprovada em 2010 e com a qual o governo do então presidente Barack Obama tentou ampliar o seguro médico a pessoas que não tinham condições de pagar.
Do lado de fora do tribunal, um grupo de manifestantes se reuniu para protestar contra qualquer tentativa de acabar com a lei, possibilidade que aumentou depois que Trump designou três juízes dos nove que integram a instituição.
Sem nenhum plano de substituição elaborado pelo governo de Trump, acabar com essa lei poderia ter um impacto devastador para 20 milhões de pessoas que perderiam seu seguro de saúde. A maioria dos americanos, entre democratas, republicanos e independentes, aprova a reforma da saúde.
O debate é marcado pela pandemia que atinge com força os Estados Unidos, o país mais afetado do mundo em termos absolutos, com mais de 10 milhões de casos.
Desde que assumiu o cargo, em 2017, Trump tentou destruir a ACA: primeiramente, acabando com um de seus principais dispositivos e, depois, tentando anular a lei por completo, respaldando uma demanda do Texas e de vários Estados liderados por republicanos.
Depois que tribunais e cortes de apelações apoiaram a demanda do Texas, um recurso enviou o caso no início deste ano aos nove juízes da Suprema Corte pela Califórnia e outros Estados que apoiam a ACA.
O debate continua após a derrota de Trump na disputa pela eleição contra o democrata, que era vice-presidente quando Obama impulsionou a lei. O presidente eleito prometeu melhorar o Obamacare no futuro.