Armênios e azerbaijanos travaram "intensos combates" em grande parte do front em Nagorno-Karabakh neste sábado (3), enquanto as autoridades de Yerevan afirmaram que as forças separatistas haviam rechaçado um "ataque maciço" de Baku.
O presidente do território separatista, Arayik Harutyunian, vestido com uniforme militar, disse a repórteres que começou "a última batalha" por Nagorno-Karabakh, e acrescentou que estava se juntando à linha de frente para lutar ao lado de suas tropas.
Segundo a porta-voz do ministério da Defesa, Shushan Stepanian, o exército separatista "conseguiu impedir o ataque em grande escala do inimigo" e mencionou, em postagem em sua página no Facebook, "intensos combates" e que "as forças armênias contra-atacaram em um dos setores do front".
Em um discurso à nação, o primeiro-ministro armênio, Nikol Pachininan, disse que a Armênia enfrenta o "momento talvez mais decisivo de sua História".
Uma "oração nacional por Nagorno-Karabakh e seus defensores" foi realizada à noite nas igrejas da Armênia e sua diáspora.
Na capital de Karabach, Stepanakert, alvo pela primeira vez de disparos de artilharia na sexta-feira, foram ouvidas explosões no sábado pela manhã, constatou um correspondente da AFP.
Nagorno-Karabakh, um território azerbaijano povoado majoritariamente por armênios, tornou-se independente do Azerbaijão em 1991, provocando uma guerra que matou 30.000 pessoas.
- "Objetivo histórico" -
"O inimigo enviou tropas reforçadas. Nossos soldados estão mostrando uma resistência heroica", disse o porta-voz do exército armênio, Artsrun Hovhannisyan, no Facebook. Ele disse aos jornalistas que "a nação e a pátria estão em perigo".
Por sua vez, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, reiterou seu apelo à retirada das forças armênias dos "territórios ocupados" do país como uma "pré-condição" para um cessar-fogo.
"Vamos recuperar nossos territórios, é nosso direito legítimo e nosso objetivo histórico", declarou em entrevista à rede de televisão Al Jazeera.
"Não podemos esperar mais 30 anos (...) O conflito de Karabakh deve ser solucionado agora", destacou.
O exército do Azerbaijão afirmou que 19 localidades azerbaijanas foram alvos de tiros armênios à noite e que, por isso, adotou "medidas retaliatórias firmes", reivindicando em especial a tomada de posições separatistas.
As autoridades armênias anunciaram neste sábado a morte de mais 51 soldados separatistas. O balanço parcial desde o início das hostilidades no último domingo subiu para 242 mortos: 209 soldados de Karabakh, 14 civis armênios e 19 civis azerbaijanos. Baku não divulgou suas baixas.
No entanto, cada lado reivindica êxitos negados pelo outro e relata a morte de centenas de soldados inimigos todos os dias. Os armênios garantem que mais de 3.000 soldados azerbaijanos morreram desde domingo, enquanto Baku afirma ter matado 2.300 soldados armênios.
- "Preocupação" das potências estrangeiras -
Como país vizinho da Armênia e do Azerbaijão, o Irã advertiu neste sábado contra qualquer "intrusão" em seu território depois que morteiros atingiram aldeias iranianas ao longo da fronteira.
A Geórgia, outro pais do Cáucaso, suspendeu temporariamente o sobrevoo em seu território de aviões militares de carga da Armênia e do Azerbaijão.
As duas partes em conflito ignoram por enquanto os múltiplos apelos da comunidade internacional por um cessar-fogo, como os de Rússia, Estados Unidos, França e do secretário-geral da ONU, António Guterres, que pediu "o fim imediato dos combates".
Rússia, Estados Unidos e França, os três países envolvidos na mediação deste conflito, também reivindicaram, em vão, um cessar-fogo.
Muitas potências, como Rússia, Turquia e Irã, têm interesses nesta área do sul do Cáucaso.
Outro dos assuntos de preocupação é o suposto envio de combatentes pró-turcos, especialmente sírios, ao front, em apoio ao Azerbaijão, respaldado pela Turquia,
Sem nomear diretamente a Turquia, o presidente russo, Vladimir Putin, expressou pela primeira vez sua "profunda preocupação" a respeito, durante uma conversa com o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan.
A França havia informado anteriormente que 300 combatentes "jihadistas" saíram da Síria em direção ao Azerbaijão, passando pela Turquia, o que constitui uma "linha vermelha".
O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) informou que pelo menos 64 combatentes sírios pró-turcos morreram em Nagorno-Karabakh desde o início dos confrontos.
* AFP