O Chile iniciou, neste domingo (25), um dia considerado histórico para decidir em um referendo se mudará ou não sua Constituição, herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) e reformada na democracia, mas considerada a mãe da injustiça social após os protestos que abalaram o país há um ano.
"Aprovo" ou "Rejeito" é a primeira pergunta que os mais de 14,7 milhões de eleitores convocados precisam responder, em um país onde o voto é voluntário desde 2012.
Dada a magnitude do debate público após os protestos pacíficos e violentos vivenciados pelo país desde 18 de outubro do ano passado, espera-se um alto nível de participação, com as devidas medidas de saúde pela pandemia.
As mesas de votação abriram oficialmente às 8h e permanecerão abertas durante 12 horas, mais que o normal, com turnos vespertinos para os maiores de 60 anos, visando aplicar as medidas contra o coronavírus e evitar aglomerações no país que, após mais de sete meses de quarentena, totaliza 500 mil casos e mais de 13,8 mil mortos.
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, votou cedo e pediu aos seus compatriotas que compareçam às urnas "porque todas as vozes importam". Também pediu que "rejeitem a violência e abracem o caminho da unidade".
— Qualquer que seja o resultado, esta noite não é o fim, é o começo do futuro — destacou o presidente conservador que assumiu o poder em março de 2018 e que enfrenta a crise social mais severa vivenciada pelo Chile em seus 30 anos de democracia, agravada pelo golpe econômico imposto pela pandemia de coronavírus.
— Esperamos muito mais de um ano por isso, é um evento histórico em nosso país — disse à AFP emocionado Elías Pérez, um psicólogo de 39 anos, que quis ser um dos primeiros a votar no Estádio Nacional de Santiago, local emblemático na história chilena transformado no maior centro de votação do país neste domingo.
O referendo foi decidido após um amplo acordo político alcançado em novembro do ano passado, quase um mês após o início, em 18 de outubro de 2019, dos protestos sociais e confrontos violentos com a Polícia após o aumento da passagem do metrô de Santiago.
Uma semana depois, em 25 de outubro, ocorreu o maior protesto já feito na democracia. Mais de 1,2 milhão de pessoas se reuniram em torno da Plaza Italia de Santiago, uma demonstração da profundidade e amplitude do descontentamento social acumulado em décadas em um país considerado um modelo de crescimento econômico e de estabilidade na América Latina.
As pesquisas projetam um grande apoio à opção "Aprovo", com entre 60% e 75% das preferências. Os primeiros resultados do exterior chegaram da Nova Zelândia, onde 90% dos chilenos com direito ao voto neste referendo votaram pela opção "Aprovo", enquanto 8% escolheram "Rejeito", segundo a imprensa local.
Além de escolher entre "Aprovo" e "Rejeito", os eleitores também definirão o órgão que redigirá a eventual nova Constituição: uma "Convenção Mista", composta por 172 membros, distribuída em partes iguais entre cidadãos eleitos e parlamentes em exercício, ou uma "Convenção Constitucional" de 155 membros, na qual todos os integrantes devem ser eleitos popularmente.
Caso o "Aprovo" vença, o Chile iniciará um processo que se estenderá por cerca de dois anos para redigir uma nova Constituição. O primeiro passo ocorrerá em 11 de abril com a eleição de constituintes, que terão entre nove meses e um ano para redigir o texto, que deverá ser ratificado em um segundo referendo.