O presidente peruano, Martín Vizcarra, que fez do combate à corrupção sua principal bandeira, navegando contra a corrente da classe política, enfrenta nesta segunda-feira um julgamento de impeachment pela segunda vez em menos de dois meses.
Evocando apego à verdade e à transparência, ele espera mais uma vez ter sucesso no novo processo no Congresso por suposta "incapacidade moral", após negar ter recebido propina para empreitadas de obras públicas em 2014, quando foi governador da região de Moquegua.
"Rejeito de forma enfática e categórica essas denúncias", "não recebi suborno", afirmou, ao se defender pessoalmente perante o plenário, sem recorrer a advogado.
Sua imagem foi manchada, e seu poder, enfraquecido. Se sobreviver ao julgamento de impeachment, terá oito meses difíceis pela frente no comando do país.
Seus adversários no Congresso alegam que ele recebeu propina quando era governador. Os valores dos supostos subornos chegam a 2,3 milhões de soles (cerca de 623 mil dólares), em um caso investigado pelo Ministério Público desde 2018, mas que só agora ganhou notoriedade por meio de reportagens na imprensa.
Vizcarra nega esses pagamentos e atribui a moção a uma manobra para adiar as eleições gerais de abril de 2021 e estender o mandato do atual Congresso.
O Ministério Público abriu processo contra Vizcarra, mas ele só será investigado quando terminar seu mandato, em 28 de julho de 2021, já que tem imunidade.
"As denúncias de suborno ao presidente Vizcarra são graves, sem dúvida, e exigem uma investigação rigorosa da promotoria, mas a denúncia só pode ocorrer no final de seu mandato", escreveu o analista político Augusto Alvarez em sua coluna no jornal La República.
Em 30 meses de gestão, Vizcarra sempre obteve taxas de aprovação acima dos 50%, impulsionado por suas reformas para prevenir a corrupção em um país onde os quatro presidentes anteriores estão envolvidos nas contribuições e subornos da construtora brasileira Odebrecht.
- "Firmes contra a corrupção" -
"Seremos muito firmes no combate à corrupção e contra todas aquelas ações contestadas pela lei", disse Vizcarra diante do Congresso ao assumir o mandato, em 23 de março de 2018.
Essas palavras seriam uma espécie de declaração de princípios, convertidas em seu principal suporte para escolher suas batalhas, apelando aos "indignados" das ruas.
De 57 anos, este engenheiro provincial sem laços com a elite de Lima assumiu para governar até julho de 2021, completando o mandato de cinco anos do renunciado Pedro Pablo Kuczynski, de quem era vice.
"Ele é muito mais cuidadoso na gestão de sua imagem" e "muito mais localizado politicamente", disse à AFP o analista Fernando Tuesta, ao compará-lo com Kuczynski.
Quem conhece Vizcarra destaca sua simplicidade e afirma que é um governante meticuloso, cuidadoso com o gasto público e convencido de que o desenvolvimento começa pela educação.
É casado com Maribel Díaz, uma professora de escola com quem teve quatro filhos.
- "Sensibilidade social" -
Em 2008, liderou em Moquegua (sul) um protesto durante dez dias contra a mineradora Southern, exigindo uma melhor distribuição dos fundos sociais gerados pela mineração para essa região marcada pelas desigualdades.
Três anos depois, aventura-se na política e é eleito governador de Moquegua (2011-2014). Uma de suas principais conquistas foi transformá-la em uma das regiões com maior investimento do PIB em educação.
Em 2016, Kuczynski o convidou para ser candidato à primeira vice-presidência, para atrair o voto do sul peruano.
Vizcarra também foi ministro de Transportes entre julho de 2016 e maio de 2017.
Nasceu em Lima em 22 de março de 1963, mas cresceu em Moquegua.
Aprendeu sobre política vendo seu pai, prefeito da cidade de Moquegua pelo APRA, partido do ex-presidente Alan García.
"Meu pai influenciou bastante minha sensibilidade social. Se a tenho, devo a meu pai", disse Vizcarra em uma entrevista.
* AFP