Um tribunal apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) divulga nesta sexta-feira (7) seu veredicto no julgamento contra quatro homens acusados de terem participado do homicídio do ex-primeiro-ministro do Líbano Rafic Hariri em 2005, uma etapa fundamental em um longo e caro processo no qual os suspeitos continuam em liberdade.
Os réus, todos membros do movimento xiita do Hezbollah, estão sendo julgados à revelia pelo Tribunal Especial do Líbano (TSL), com sede em Haia, encarregado de ditar a sentença 15 anos após o atentado com um carro-bomba, no centro de Beirute. Nele, morreram o bilionário sunita e outras 21 pessoas.
O assassinato de Hariri, pelo qual quatro generais libaneses foram inicialmente acusados, desencadeou uma onda de protestos que forçou a retirada das tropas sírias do país, após uma presença de 30 anos no país.
— Embora o Líbano tenha uma longa história de assassinatos políticos, esse assassinato em particular representou um verdadeiro terremoto — disse à AFP Karim Bitar, professor de Relações Internacionais em Paris e Beirute.
O Hezbollah, que nega qualquer envolvimento no ataque, opõe-se a entregar os suspeitos, apesar de vários mandados de prisão do TSL.
Este tribunal, estabelecido em 2007 após uma resolução do Conselho de Segurança da ONU a pedido do Líbano, "tem sido altamente questionado desde a sua criação" e representou um custo de "vários milhões de dólares" para o Estado libanês, explica Bitar.
A sentença será pronunciada na sexta-feira às 11h locais (6h em Brasília) com uma "participação virtual parcial", devido à pandemia de coronavírus, informou o tribunal.
Homicídio doloso
Premiê libanês até sua renúncia em 2004, Hariri foi morto em fevereiro de 2005, quando um homem detonou seu carro-bomba junto à caravana na qual se encontrava, em uma estrada da costa de Beirute. O ataque deixou 22 mortos e 256 feridos.
O primeiro suspeito, Salim Ayyash, de 50 anos, é acusado de "homicídio doloso" e de ter liderado a equipe que cometeu o ataque. Outros dois homens — Hussein Oneisi, de 46, e Asad Sabra, 43 — estão sendo julgados por filmarem um vídeo que reivindicava a autoria do crime em nome de um grupo fictício. O último acusado, Hassan Habib Merhi, 52, enfrenta várias acusações, incluindo cumplicidade em um ato terrorista e conspiração para cometê-lo.
Mustafa Badreddin, o principal suspeito e apresentado como o "cérebro" do atentado, não pode ser julgado por ter morrido alguns anos após os eventos. Se forem considerados culpados, os acusados poderão ser condenados a uma pena de prisão perpétua. A sentenças serão divulgadas mais adiante.
Acusação e defesa poderão recorrer da sentença e, se um dos acusados finalmente comparecer diante do tribunal, poderá solicitar outro processo.
Medo de novas tensões na comunidade
O assassinato de Hariri "tinha um objetivo político", insistiu a acusação durante o julgamento, lembrando que o ex-primeiro ministro "era visto como uma grave ameaça aos pró-sírios e aos partidários do Hezbollah".
O movimento xiita garantiu que não reconhece o TSL, que desde 2019 também investiga outro caso.
Saad Hariri, filho da vítima e que renunciou ao cargo de primeiro-ministro em 2019, disse em um comunicado divulgado na semana passada que "não havia perdido a esperança na Justiça internacional e na revelação da verdade".
O atual primeiro-ministro, Hassan Diab, alertou que as autoridades "devem estar preparadas para enfrentar as consequências" do julgamento.
— Podemos temer que este tribunal, 15 anos depois, faça ressurgir as tensões comunitárias no Líbano — alerta Bitar, o que acrescentaria mais um problema em um país que passa por "uma crise econômica sem precedentes".