O presidente maliense, Ibrahim Boubacar Keita, e seu primeiro-ministro, Boubou Cisse, foram detidos na tarde de terça-feira (18) por militares amotinados, que se aliaram a manifestantes que pedem há meses a saída dos chefes de Estado e de governo.
O presidente e o primeiro-ministro "foram levados pelos militares amotinados em veículos blindados a Kati", onde está o acampamento Sundiata Keita, a 15 km de Bamako, onde teve início a rebelião no começo do dia, disse Boubou Doucoure, diretor de comunicação do governo.
"Podemos dizer-lhes que o presidente e o primeiro-ministro estão sob nosso controle. Os detivemos em sua casa" (na residência do chefe de Estado em Bamako), tinha dito mais cedo à AFP um dos líderes da rebelião.
Os militares rebeldes tomaram o controle do acampamento e das ruas vizinhas, antes de se dirigir em comboio para o centro da capital, segundo um correspondente da AFP.
Em Bamako foram aclamados por manifestantes reunidos para pedir a saída do chefe de Estado nos arredores da praça da Independência, epicentro dos protestos que sacodem o Mali há vários meses, antes de se dirigir para a residência do presidente Keita, segundo a mesma fonte.
Por meio de um porta-voz, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou as ações e pediu a "libertação imediata e sem condições" do presidente do Mali.
A pedido da França e do Níger, que preside atualmente a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), o Conselho de Segurança da ONU anunciou que celebrará a portas fechadas uma reunião de emergência na quarta-feira sobre a crise no pais africano.
Antes do anúncio da detenção do presidente e de seu primeiro-ministro, os países da Africa ocidental, além de França e Estados Unidos, haviam expressado preocupação e denunciado qualquer tentativa de depor o governo.
"Condeno energicamente a detenção do presidente Ibrahim Boubacar Keita, (do) primeiro-ministro (Boubou Cisse) e (de) outros membros do governo do Mali e pediu sua libertação imediata", disse o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, em sua conta no Twitter.
O presidente francês, Emmanuel Macron "acompanha a situação com atenção e condena a tentativa de rebelião em curso", anunciou em Paris.
O chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian, havia dito antes que condenava "com a maior firmeza" este "amotinamento".
Pouco antes de sua detenção pelos militares, o primeiro-ministro Boubou Cissé pediu-lhes em um comunicado para "calar as armas", mostrando-se disposto a iniciar com eles um "diálogo fraterno para dissipar todos os mal-entendidos".
"As mudanças de humor constatadas traduzem alguma frustração que pode ter causas legítimas", disse Cissé, sem dar mais detalhes sobre as razões da revolta dos militares.
- Distúrbios sangrentos -
Mali enfrenta uma grave crise sociopolítica que preocupa a comunidade internacional.
Uma coalizão eclética de opositores políticos, guias religiosos e membros da sociedade civil aumentam as manifestações para pedir a saída do presidente, acusado de má gestão.
A isto se soma uma difícil "situação social", segundo a dirigente sindical Sidibé Dedeu Ousman.
O Movimento de 5 de junho-Reunião de Forças Patrióticas do Mali (M5-RFP), que lidera os protestos, rejeitou na quinta-feira uma entrevista com Keita, pondo como condição prévia o "fim da repressão" contra seus militantes.
No fim de semana de 10 de julho, uma manifestação convocada pelo Movimento de 5 de junho resultou em três dias de distúrbios sangrentos.
No mesmo acampamento de Kati rebelaram-se soldados em 21 de março de 2012 contra a ineptidão governamental para enfrentar uma ofensiva maior dos rebeldes tuaregues e a chegada de jihadistas provenientes de países vizinhos.
Na ocasião depuseram o presidente Amadou Toumani Touré.
O golpe de Estado precipitou a queda do norte do Mali nas mãos de grupos islamitas armados, que ocuparam a região durante nove meses antes de ser expulsos por uma intervenção militar internacional lançada pela França em janeiro de 2013, e que ainda segue em curso.
* AFP