O favoritismo se confirmou. Com folgada margem, a Islândia reelegeu neste sábado (27) por um mandato de mais quatro anos o presidente Gudni Johannesson, com cerca de 90% dos votos, com base em resultados ainda provisórios.
Ao confirmar sua escolha no professor de história de 52 anos, a ilha vulcânica de 365.000 habitantes optou pela continuidade, doze anos após a insolvência bancária de 2008, e na iminência de uma nova crise econômica mundial devido à pandemia do novo coronavírus.
Segundo os resultados provisórios com base em 60.000 votos, disponíveis às 00h00 locais (21h de Brasília), Gudni Johannesson abriu a dianteira com 90,7% da preferência do eleitorado, à frente de seu único adversário, o candidato populista de direita Gudmundur Franklin Jonsson, com 9,5%, refletindo mais ou menos a margem prevista pelas pesquisas de opinião das últimas semanas.
Foram convocados a votar 252.217 eleitores.
Gudmundur Jonsson reconheceu rapidamente a derrota. "Eu envio meus cumprimentos a Gudni e sua família", declarou à emissora pública RUV o ex-corretor de Wall Street, próximo de nacionalistas islandeses.
Após chegar de bicicleta para votar perto da capital, Reykjavik, o presidente Johannesson havia afirmado na manhã deste sábado à AFP sua vontade de "continuar no mesmo caminho" caso fosse reeleito.
- "Escolha fácil" -
No regime parlamentar em vigor na ilha nórdica, o chefe de Estado tem um papel essencialmente protocolar. Seu único poder real é importante: o direito constitucional de bloquear a promulgação de uma lei ou submetê-la a referendo.
Foi no rastro da crise financeira de 2008 que esta forma de veto presidencial foi utilizado pela primeira vez. O presidente conservador Olafur Grimsson acionou dois referendos, em 2010 e 2011, sobre um acordo de indenização de clientes estrangeiros lesados pela insolvência de seu banco, o Icesave.
Depois da Sérvia, no domingo passado, e antes da Polônia e da França, neste domingo, a Islândia é o segundo país a organizar uma eleição depois do início das medidas de confinamento adotadas na Europa para conter a disseminação da COVID-19.
Além das medidas de precaução (distanciamento de dois metros e disponibilização de álcool gel nas seções), a epidemia, praticamente contida na ilha, não teve impacto.
Johannesson, o presidente mais jovem eleito depois da independência do país, em 1944, desfruta de forte popularidade desde que chegou ao cargo, em 2016.
"Eu acredito que esta foi a escolha mais fácil da minha vida para votar. Tinha me decidido há muito tempo", contou à AFP uma de suas eleitoras, Ragnhildur Gunnlaugsdóttir, de 47 anos. "Por que mudar quando se está bem?", acrescentou Helga Linnet, outra eleitora de 46 anos.
Ao contrário de seu antecessor, Grimsson, que não hesitou em alimentar a controvérsia partidária, Johannesson insistiu no consenso durante sua permanência na residência presidencial de Bessastadir.
- Consenso -
Seu único adversário penou em gerar adesão ao seu lado polêmico. Este ex-corretor de Wall Street de 56 anos, entrou para a política em 2010, ao criar o partido populista de direita Haegri graenir.
Em um país onde a maioria dos poderes repousa sobre o governo e o atual primeiro-ministro da esquerda ecologista Katrin Jakobsdottir, o adversário Jonsson queria tornar a função presidencial mais ativa, ao utilizar mais, por exemplo, o referendo.
Para muitos, isto seria uma violação da tradição. "Realmente eu não gosto disto porque o presidente na Islândia tem um papel protocolar e não político", avaliou Audunn Gisli Arnason, um dos eleitores entrevistados pela AFP antes do voto.
Sem grandes dificuldades, as presidenciais islandesas podem reivindicar um lugar à parte na história da igualdade entre homens e mulheres. Em 1980, o pleito levou à eleição da primeira mulher chefe de Estado do mundo, Vigdis Finnbogadottir, hoje com 90 anos.
* AFP