A crise causada pela pandemia de coronavírus pode aumentar, ainda mais, a desigualdade de gênero na educação em países da América Latina, de acordo com a organização humanitária Plan International.
Segundo a ONG, a quarentena decretada pelos governos de alguns países como medida preventiva para impedir a expansão do coronavírus "deixou 95% dos estudantes afastados dos serviços educacionais".
Além disso, muitos pais perderam o emprego devido à crise econômica causada pela pandemia, dificultando o pagamento dos estudos para meninas.
— Estima-se que a diferença de gênero em termos de acesso à educação possa aumentar em décadas e deixar para trás as conquistas já realizadas — alertou Janaina Hirata, especialista regional em Educação de Emergência da Plan International.
No total, na América Latina, já se passaram de 100 mil mortes e 2,2 milhões de casos sem que tenha sido atingido o pico da pandemia, alertou a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Brasil, México, Peru e Chile são os países latino-americanos mais castigados, enquanto na América Central há uma "transmissão generalizada" do vírus, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde.
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a recessão será mais aguda do que a estimada em abril, com uma contração do PIB regional de 9,4%, contra 4,2% previstos anteriormente.
— As famílias viram sua renda diminuir, portanto, pais e mães não poderão pagar pelo valor de seus estudos ou deixarão as filhas sob os cuidados da casa e da família, fazendo as tarefas domésticas enquanto saem para trabalhar — disse Hirata.
Os governos latino-americanos devem tomar medidas "urgentes" para garantir que as meninas "voltem para a escola", acrescentou Hirata em comunicado distribuído no escritório da Plan International no Panamá.
Essa ONG também teme que haja um aumento na gravidez na adolescência, violência sexual, casamento e união de crianças durante a quarentena, dramas que podem ser exacerbados se as meninas deixarem de ir à escola.
A falta de acesso à educação das meninas "causará décadas de atraso e trará um risco de geração" porque uma criança que não estuda "tem menos oportunidades e isso pode afetar as próximas gerações", indicou a organização.