A proibição da entrada nos Estados Unidos de brasileiros e passageiros de voos que tenham passado pelo Brasil é uma medida mais de caráter eleitoral do que sanitário, defende o doutor em relações internacionais e professor da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Carlos Gustavo Poggio.
— Restringir viagem do Brasil, talvez tenha o efeito muito pequeno se considerar o total de casos dos Estados Unidos. Como que a gente interpreta isso? Como uma ação mais política. Estamos em ano de eleição e Trump precisa dar satisfação à sua população para dizer que está tomando medidas contra o coronavírus. Então acho que se encaixa muito mais em uma questão política do que técnica — disse o professor.
Em entrevista ao programa Faixa Especial, da Rádio Gaúcha, neste domingo (24), Poggio lembrou da parceria que o governo Bolsonaro insiste em firmar com o governante norte-americano. A proibição mostra que talvez a aproximação não tenha sido tão vantajosa para o Brasil. Ao mesmo tempo, a possível não reeleição de Trump significa, para o professor, um risco à política de relação exteriores bolsonarista.
— (A política brasileira atual) Não é tanto pró-EUA mas é mais pró-Donald Trump. Estamos em ano eleitoral e há grandes chances de Trump não ser reeleito, é uma possibilidade. Se Trump não é eleito e é eleito o Joe Biden (possível adversário de Trump nas eleições à presidência), o governo brasileiro não construiu pontes com os democratas. Isso pode apagar todo o trabalho de política externa feita nesses anos. É arriscado — opina.
Atento não somente às reações norte-americanas, Carlos Gustavo Poggio aponta para o desgaste na imagem brasileira. A postura de Bolsonaro frente ao coronavírus, segundo ele, pode diminuir a força política do país no Exterior, muito baseada na imagem que o mundo tem do Brasil.
— Há um impacto. Quando a gente lê jornais estrangeiros percebe-se uma posição bastante crítica com relação ao Brasil. O Brasil e o presidente brasileiro têm adotado políticas que não têm sido encontrada em outros países. Mesmo Trump e líderes com matizes ideológicas próximas ao Bolsonaro tem sido mais cautelosos que o brasileiro nessa questão — comentou.