O vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde, Jarbas Barbosa, avaliou o avanço do coronavírus na América Latina nesta sexta-feira (8). Em entrevista ao Atualidade, programa da Rádio Gaúcha, ele destacou que vê o quadro com preocupação. Até a quinta-feira (7), a região, junto com o Caribe, havia ultrapassado a merca de 300 mil casos.
— Nós temos países que estão com um processo de crescimento (de casos) muito importante nas duas semanas mais recentes, principalmente — disse. — É um momento de muita atenção, é um momento em que os países têm de implementar aquilo que é recomendado. Monitorar sua situação, com base nesse monitoramento implementar medidas de distanciamento social capazes de reduzir a velocidade de transmissão e, com isso, não produzir uma sobrecarga nos hospitais. Essa estratégia tem que ser reforçada nesse momento — explicou o dirigente.
Frequentemente, no Brasil tem sido colocado em confronto a questão da saúde versus economia. O presidente Jair Bolsonaro, na quinta-feira (7), chegou a fazer uma reunião no Supremo Tribunal Federal (STF) na presença de empresários, pressionando a Corte pela flexibilização do distanciamento social. Barbosa, porém, afirmou que esse tipo de embate entre as duas áreas não ocorre exclusivamente aqui.
— Nós sabemos que as medidas de distanciamento social produzem um impacto importante na economia, e isso em países da América Latina, que tem grande parte da população vivendo na economia informal, sempre é um desafio muito grande — afirmou. — Por isso, os órgãos econômicos têm recomendado medidas de proteção social e econômica de maneira a reduzir o impacto dessas medidas sobre as pessoas, principalmente sobre as pessoas mais pobres — prosseguiu Barbosa.
Além disso, ele citou a necessidade de realizar um monitoramento eficiente dos casos e, com base nessas estatísticas, implementar as medidas de distanciamento social. Citou, também, que há como deixar serviços essenciais funcionando com risco reduzido de transmissão, adotando as medidas como a utilização de máscaras.
— Há várias maneiras de deixar os serviços essenciais funcionando sem risco de transmissão. Nos serviços não essenciais, quando a transmissão começa a ocorrer e acelerar de maneira a por em risco a capacidade de leitos de UTI, essas medidas têm de ser tomadas. Quanto mais cedo elas forem tomadas, mais cedo têm efeito — ressaltou.
Para ressaltar a importância do monitoramento, o dirigente lembrou como foi a progressão da pandemia na Itália.
— Como eles não perceberam que estava havendo transmissão comunitária disseminada, só tomaram medidas de distanciamento social quando perceberam essa explosão de casos e mortes, com muito mais gente precisando UTI do que tinha (disponível). — disse. — Quando você toma uma medida neste ponto, ainda vai ter duas a três semanas para observar os efeitos do distanciamento social. Porque você vai ter muito mais gente que se contaminou — completou Barbosa, explicando que há um período de incubação do vírus.