O Reino Unido e a União Europeia pediram rápidos avanços ao retomarem as negociações nesta segunda-feira (20) sobre seu futuro relacionamento pós-brexit, interrompido pela pandemia do coronavírus, que torna ainda mais incerto o acordo até o final do ano.
"A segunda rodada de negociações começou por videoconferência. Devemos avançar em todas as áreas. Nosso objetivo é fazer progressos tangíveis para junho", escreveu em redes sociais o negociador europeu Michel Barnier no início das discussões que terminarão nesta sexta-feira (24).
Após o divórcio consumado em janeiro, Londres e Bruxelas se deram 11 meses para desvendar décadas de estreitos laços econômicos, prazo que se tornou ainda mais ambicioso desde o surto do vírus e a recusa do Reino Unido de estender a negociação.
— Por causa da pandemia, há mais incerteza sobre a direção que todos querem seguir —disse Eric Maurice, analista da Fondation Schuman, para quem "todos estão pensando em reorientar sua economia".
Iniciada em 2 de março, a negociação foi paralisada pelo alerta de saúde para o coronavírus e agora é retomada em meio a uma recessão econômica global já projetada para 2020.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê uma contração da economia britânica de 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020. Nos 19 países da zona do euro a queda seria de 7,5% do PIB.
Junho é anunciado como o momento chave.
— Nesta semana, esperamos novas negociações construtivas com o objetivo de avançar para junho — disse o porta-voz de Downing Street.
As próximas rodadas estão agendadas para as semanas de 11 de maio e 1º de junho. A extensão do período de transição e, portanto, das negociações, pode ser solicitada até 1º de julho, embora o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, já tenha manifestado sua recusa a fazer isso em várias ocasiões.
O preço a pagar
As limitações "técnicas" da negociação por videoconferência e o "possível impacto econômico" de não se chegar a um acordo, o que levaria ao "mais difícil de todo o brexit" "pesam muito a favor de uma prorrogação", segundo Fabian Zuleeg, do European Policy Centre.
Para Sam Low, do Centre for European Reform, Londres deve solicitar a prorrogação com "caráter de urgência". Uma solução "pragmática" seria uma extensão máxima de dois anos, mas com a possibilidade de pôr fim antes se uma parte solicitar.
Os britânicos deixaram a UE em 31 de janeiro para iniciar um período de transição até 31 de dezembro, durante o qual continuarão cumprindo as regras europeias enquanto negociam suas futuras relações comerciais com seus antigos parceiros.
Entretanto, no caso de um acordo não ser alcançado, as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) se aplicariam à relação comercial entre os dois, o que significaria tarifas mais altas e a reintrodução de barreiras alfandegárias.
Os negociadores devem, além de definir o formato desse pacto — se vários acordos ou um global —, resolver a questão sensível do acesso de barcos de pesca europeus às águas britânicas e o medo na UE sobre eventual concorrência desleal de seu ex-parceiro.