O presidente americano Donald Trump substituiu na quinta-feira (21) o chefe de inteligência Joseph Maguire. A decisão ocorreu meio a relatos que citam que a fúria do chefe de Estado contra o funcionário explodiu após uma sessão com congressistas sobre a suposta intenção da Rússia de interferir nas eleições de 2020 a favor do chefe do Executivo nacional americano.
Trump se revoltou contra o agora ex-diretor interino de inteligência nacional (DNI) ao ficar sabendo da sessão de 13 de fevereiro do Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes — de maioria democrata —, informou a imprensa.
Não está claro se Trump rejeitou algum ponto específico das explicações ao Comitê. Segundo relatos, Shelby Pierson — assistente de Maguire — disse aos congressistas que a Rússia estava interferindo mais uma vez nas eleições americanas para favorecer o presidente. O mandatário já foi alvo de acusações de interferência favorável de Moscou na eleição de 2016.
O presidente ficou irritado com a presença de Adam Schiff, representante democrata que comandou a investigação a qual resultou nas acusações de abuso de poder e obstrução do trabalho do Congresso contra Trump no processo de julgamento político, informou o jornal The New York Times.
Conforme o Washington Post, o presidente repreendeu Maguire em uma discussão no Salão Oval na semana passada pela "deslealdade" de sua equipe — frustrando efetivamente suas possibilidades de ser ratificado de forma permanente no cargo.
Trump foi acusado em dezembro de tentar forçar a Ucrânia a investigar o ex-vice-presidente Joe Biden para obter benefícios políticos. O republicano teria bloqueado ajuda militar considerada vital para a ex-república soviética em sua guerra com a Rússia.
O congressista democrata Bennie Thompson disse que ao demitir Maguire por sua sessão informativa na Câmara "o presidente não apenas se recusa a se defender da interferência estrangeira, mas a está convidando" a ser concretizada.
Defesa do substituto
A Casa Branca insistiu que o novo chefe da inteligência americana, Richard Grenell, realizará seu trabalho de forma imparcial. A declaração ocorre diante da indignação dos democratas, que protestaram com a nomeação de um partidário do presidente Donald Trump para o cargo.
Grenell, ex-embaixador dos Estados Unidos (EUA) na Alemanha — que irritou o aliado europeu por suas críticas ao governo local — foi nomeado na quarta-feira (19) diretor interino da Inteligência nacional, substituindo Maguire. Sem experiência anterior nesta área, ele vai supervisionar 17 agências — entre elas a CIA — após uma série de confrontos entre Trump e profissionais do setor sobre a interferência russa na campanha eleitoral de 2016 e supostas intenções similares de Moscou para 2020.
Grenell "está comprometido com uma abordagem apolítica, imparcial, como chefe da Comunidade de Inteligência, da qual depende nossa segurança", disse em nota a secretária de imprensa da Casa Branca, Stephanie Grisham.
Comentarista na imprensa há muitos anos e ex-porta-voz dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Grenell será o primeiro funcionário abertamente gay em um gabinete do governo nos Estados Unidos.
Como salvo-conduto para esta nomeação, Trump o designou diretor interino, permitindo sua atuação por 210 dias sem a necessidade de aprovação do Senado. Essa é a segunda vez consecutiva que o milionário republicano recorre a esta estratégia para o cargo.
O senador democrata Ron Wyden acusou Trump em um comunicado de priorizar a "obediência" incondicional sobre a "segurança do povo americano".
Grenell saudou o surgimento de populismos de direita na Europa e elogiou o chanceler ultraconservador austríaco Sebastian Kurz, a quem descreveu como "uma estrela do rock". O novo diretor também expressou dúvidas sobre a interferência russa na campanha eleitoral 2016, algo que segundo as conclusões da comunidade de inteligência aconteceu e incluiu a manipulação das redes sociais para favorecer Trump sobre sua rival Hillary Clinton.