Os Estados Unidos e o Talibã assinaram, neste sábado (29), um acordo histórico para colocar fim a um conflito que dura quase duas décadas. Anunciado em Doha, no Catar, o pacto prevê a retirada completa das tropas norte-americanas e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) do Afeganistão em 14 meses.
O acordo foi assinado pelo negociador norte-americano, Zalmay Khalilzad, e o líder do Talibã, Abdul Ghani Baradar. Depois do anúncio, Khalilzad e Baradar selaram o trato em um aperto de mãos. Norte-americanos e talibãs estão em guerra no território afegão desde 2001.
A retirada ocorrerá em etapas até abril de 2021. Inicialmente, no prazo de 135 dias, está prevista uma redução do número de militares para 8,6 mil. Os governos dos Estados Unidos e do Afeganistão também prometeram liberar cerca de 5 mil prisioneiros ligados ao grupo islâmico que, em torca, soltará mil presos.
Ao assinar o acordo, o Talibã assumiu uma série de compromissos de segurança. Entre eles, o fim dos ataques, a negociação com o governo do Afeganistão e o não apoio a grupos terroristas. Se cumprir os termos, o grupo ficará livre de sanções. Caso contrário, o processo poderá ser revisto.
O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, discursou no evento. Pompeo afirmou que o Talibã está comprometido em romper lanços com a Al-Qaeda e a combater o Estado Islâmico. Também disse que a paz requer "sacrifício de todos os lados":
– Continuem comprometidos com o acordo, sentem-se com o governo afegão, e a comunidade internacional estará pronta para retribuir.
Pompeo destacou que o país precisa garantir a segurança de seus aliados e assegurar o fim das ameaças terroristas vindas do Afeganistão. Já Baradar pediu que Paquistão, Indonésia, China e Rússia ajudem a reconstruir o país. Agora, ele terá de começar as conversas com o governo afegão, o que é considerado o ponto mais sensível do pacto. Os norte-americanos também concordaram em manter distância dos assuntos domésticos do Afeganistão e em enviar recursos para as forças de segurança.
Após o anúncio, líderes norte-americanos e da Otan demonstraram prudência sobre as chances de sucesso do acordo.
– Temos de estar preparados para reveses e incidentes – apontou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.
Se o ato prosperar, será uma vitória para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, candidato à reeleição em novembro deste ano. Trump tem prometido terminar com as "guerras sem fim", que, segundo ele, custam caro, e na qual os soldados trabalham como policiais.
"Se o Talibã e o governo do Afeganistão cumprirem esses compromissos, teremos um caminho poderoso para terminar a guerra no Afeganistão e trazer nossas tropas para casa. Esses compromissos representam um passo importante para uma paz duradoura em um novo Afeganistão, livre da Al-Qaeda, do ISIS (Estado Islâmico) e de qualquer outro grupo terrorista que queira nos fazer mal. Por fim, caberá ao povo do Afeganistão construir seu futuro. Por isso, exortamos o povo afegão a aproveitar esta oportunidade de paz e um novo futuro para seu país", disse Trump em comunicado.
Conflito pós-11 de Setembro
Os Estados Unidos invadiram o Afeganistão em 7 de outubro de 2011, em resposta aos ataques de 11 de setembro. A guerra já custou aos norte-americanos US$ 1 trilhão (cerca de R$ 4,5 trilhões) e, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 100 mil civis morreram ou foram feridos no conflito nos últimos 10 anos.
À época da invasão, o Talibã era liberado por Mohammed Omar. Ele controlava 90% do Afeganistão, mas nunca teve o governo reconhecido pela ONU e pelos Estados Unidos. O revide norte-americano ocorreu porque os afegães davam abrigo à rede Al-Qaeda, autora dos atentados que mataram quase 3 mil pessoas.