Entre abordagens frustradas, esperanças de cessar-fogo e influência regional, as negociações de paz com os talibãs foram uma série de oportunidades fracassadas que mantiveram o país em quase duas décadas de conflito sangrento.
- As ocasiões fracassadas -
As discussões entre os Estados Unidos e os talibãs começam antes da intervenção americana em 2001, o que precipitou sua queda.
De acordo com documentos confidenciais liberados pelo governo americano, durante a presidência de Bill Clinton foram mantidos contatos secretos com o grupo, o que não impediu os ataques de 11 de setembro de 2001 no território americano perpetrados pela Al Qaeda do Afeganistão.
Desde a operação dos Aliados, os talibãs concordaram em depor suas armas em troca de uma anistia. Mas os "falcões" da diplomacia americana, certos de sua vitória militar, recusaram a oferta.
"Cada pilar do regime talibã será destruído", ameaçaram os Estados Unidos em uma mensagem a Mulá Omar, fundador do movimento, em outubro de 2001.
Os insurgentes se mudaram para o vizinho Paquistão, de onde começaram uma guerrilha sangrenta, retornando gradualmente ao território afegão.
As perdas colossais para as forças de segurança afegãs, apesar do apoio dos Estados Unidos, forçaram Washington, após 18 anos de presença, a assinar um acordo sobre a retirada de suas tropas.
Tentativas de diálogo ocorreram em 2004 e depois em 2011.
Em 2013, os talibãs abriram um escritório político no Catar para negociar com os Estados Unidos, mas as negociações foram interrompidas depois que se declararam embaixada não-oficial de um governo no exílio, posição inaceitável para o governo afegão.
Uma reunião entre os talibãs e o governo afegão, organizada em julho de 2015 no Paquistão, cessou após a revelação da morte de Mulá Omar que ocorreu dois anos antes.
- Cessar-fogo -
Em 2015, o presidente afegão Ashraf Ghani propõe negociações de paz com os talibãs e propõe o reconhecimento de seu movimento como partido político. O grupo ignora a proposta.
Em 2018, Ghani faz nova oferta e anuncia um cessar-fogo unilateral com os insurgentes da Aid-el-Fitr, que comemora o fim do Ramadã. Os talibãs anunciam três dias de cessar-fogo simultaneamente.
A luta então é interrompida, pela primeira vez desde 2001, e leva a cenas sem precedentes de confraternização entre os talibãs e membros das forças de segurança. Mas esse período tem curta duração, pois a violência se intensifica mais tarde.
- Negociações entre talibãs e EUA -
No verão de 2018, ao reconhecer que o conflito não tem "solução militar", os EUA iniciam negociações diretas com os talibãs em Doha.
Donald Trump, ansioso por acabar com as "guerras sem fim", nomeia Zalmay Khalilzad em setembro como enviado especial para a paz. De outubro até o verão de 2019, o ex-embaixador dos EUA no Afeganistão mantém oito séries de negociações com representantes do grupo na capital do Catar.
No início de setembro, ambas as partes estão prestes a chegar a um acordo pelo qual, em troca de uma agenda de retirada das forças americanas, os talibãs se comprometem a impedir qualquer presença de grupos terroristas no território, reduzindo a violência e iniciando um diálogo intra-afegão.
Mas na terça-feira, 7 de setembro, em meio à surpresa geral, Donald Trump põe fim às negociações. Isso justifica essa mudança repentina de posição espetacular pela morte de um soldado americano e onze outras pessoas em um ataque dos talibãs dois dias antes em Cabul.
As autoridades afegãs saúdam a crise nas negociações, das quais foram afastados desde o início.
O presidente americano dá novo estímulo às negociações durante uma visita ao Afeganistão no final de novembro.
Zalmay Khalilzad encontra representantes do grupo no Catar.
Mas tudo para novamente depois de um ataque dos insurgentes em 11 de dezembro contra a base aérea de Bagram, perto de Cabul, controlada pelos americanos.
- "Redução da violência" -
Os Estados Unidos exigem que os talibãs se comprometam a "reduzir a violência", e os insurgentes aceitam em 18 de janeiro.
Este período de redução nos combates, cujo objetivo do lado americano é demonstrar a disposição e a capacidade dos talibãs de controlar suas tropas no terreno, começa em 22 de fevereiro. Nesta data, o período de redução da violência parecia algo possível.
Cinco dias depois, uma fonte de segurança interrogada pela AFP considerava que os ataques talibãs reduziriam em média de 75 a 15 por dia desde o início da trégua parcial.
Se essa tendência continuar até sábado, os talibãs e os Estados Unidos assinarão um acordo histórico em Doha, cujo objetivo do lado americano é acabar com 18 anos de guerra.
Os Estados Unidos se comprometerão inicialmente a retirar uma parte dos cerca de 13.000 militares atualmente destacados no Afeganistão, deixando apenas 8.600.
As negociações intra-afegãs, entre os talibãs e representantes do governo, oposição e sociedade civil, começariam em paralelo.
Uma fonte dos talibãs mencionou na semana passada "10 de março" como uma provável data de início das negociações.
* AFP