Em um aceno ao governo Jair Bolsonaro, o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Felipe Solá, afirmou nesta quarta-feira (12) que seu país não será "uma trava" para as negociações de acordos comerciais do Mercosul.
— Entendemos que, como estratégia, o Mercosul deve celebrar acordos de comércio com outros países para crescer — disse Solá. — Nós vemos esses acordos com uma mente aberta e vamos atuar para não sermos uma trava — acrescentou, após reunir-se por mais de duas horas com o chanceler Ernesto Araújo.
O Mercosul (bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) concluiu em 2019 as negociações de acordos comerciais com a União Europeia (UE) e com a Associação Europeia de Comércio Livre (Efta). Esses tratados foram acertados quando a Argentina era governada pelo liberal Mauricio Macri, e havia receio no governo brasileiro de que a linha protecionista do novo mandatário, Alberto Fernández, representasse um entrave tanto para a ratificação desses textos quanto para futuros acordos com outros países.
A reunião entre os dois ministros — a primeira visita de alto nível entre os governos Bolsonaro e Fernández — ocorreu no Palácio do Itamaraty, em Brasília. Ao final do encontro, Solá fez um extenso relato das dificuldades econômicas do país vizinho e pediu o apoio do Brasil na renegociação da dívida argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
— Pedimos ao Brasil que também nos apoie da maneira possível no FMI, porque é o primeiro passo de uma escada com muitos degraus — afirmou o argentino.
Ele afirmou ainda que o governo Fernández busca mais prazo para honrar seus compromissos e garantiu que a Argentina não entrará em default (calote) novamente. O ministro argentino relatou que seu país enfrenta uma "recessão profunda", o que impacta o fluxo comercial com o Brasil. Também citou problemas de demanda interna e externa, além de uma "altíssima inflação, com cifras astronômicas", se comparada com a realidade do Brasil.
Apesar da fala, Solá afirmou que é preciso enfrentar a escalada inflacionária "sem receitas mágicas". A vice de Fernández, Cristina Kirchner, foi acusada de mascarar os índices de inflação durante seu governo.
A campanha presidencial argentina foi marcada por trocas de críticas entre Fernández e Bolsonaro. Nas últimas semanas, o presidente brasileiro fez novas queixas contra o governo argentino e disse que os eleitores do país vizinho elegeram "quem os colocou na situação de desgraça (em) que se encontravam".
Solá deve ter uma reunião nesta tarde com o presidente Bolsonaro. Em mais um sinal de que busca uma reaproximação, ele declarou trazer as "saudações fraternas de Fernández", com um "olhar realista e pragmático das relações com o Brasil".