Cidades do Irã registraram, nesta segunda-feira (18), distúrbios contra a alta do preço dos combustíveis. O governo do país, entretanto, argumenta que a situação está voltando ao normal.
Pelo menos 25 municípios foram afetados pelos protestos, que começaram horas após o anúncio de uma reforma no modo de subsidiar a gasolina. Projetada para beneficiar as famílias mais desfavorecidas, o novo modelo deve ser acompanhado por um aumento acentuado do preço do combustível, de pelo menos 50%.
Oficialmente, duas mortes foram confirmadas desde que os protestos começaram na noite de sexta-feira (15) — um civil e um policial. Informações publicadas por agências iranianas apontam que outras oito pessoas podem ter morrido. As matérias, contudo, não oferecem fontes ou mais detalhes sobre as ocorrências.
Os Guardiões da Revolução, exército de elite da República Islâmica, alertaram que estavam dispostos a "reagir decisivamente (...) contra a continuação da insegurança e ações que perturbam a paz social", depois que os protestos provocaram o bloqueio de estradas e o incêndio de vários edifícios. Mais cedo, o governo iraniano afirmou que, "na comparação com domingo (17), a situação está 80% mais tranquila".
— Ainda existem alguns problemas menores, mas amanhã ou depois de amanhã não teremos nenhum problema de distúrbios — declarou o porta-voz do governo, Ali Rabii.
Entretanto, é difícil avaliar o estado real da situação em todo o país devido aos cortes na Internet por vários dias. O serviço ficou indisponível também na noite desta segunda. Em rede social, a ONG Netblocks —que analisa a liberdade de acesso à internet em todo o mundo — apontou que "o nível de conexão com o mundo exterior é de apenas 5% comparado aos níveis normais".
As autoridades da República Islâmica relataram a detenção de mais de 200 pessoas.
As manifestações ocorrem em meio à uma crise econômica no país, agravada pelas sanções impostas pelos Estados Unidos por conta do programa nuclear do país. A moeda iraniana, o rial, sofreu uma acentuada desvalorização, a inflação passa dos 40% e o Fundo Monetário Internacional (FMI) espera para este ano uma queda de 9,5% no Produto Interno Bruto (PIB) do Irã. Além disso, os protestos ocorrem a alguns meses das eleições legislativas, previstas para fevereiro.
Nesta segunda-feira, o Irã criticou em um comunicado do ministério das Relações Exteriores o "apoio" dos Estados Unidos ao que chamou de "grupo de amotinados" e condenou os comentários "intervencionistas" de Washington. No dia anterior, a Casa Branca condenou o Irã pelo uso de "força letal" contra os manifestantes nos protestos contra o aumento no preço dos combustíveis.
Sem internet
Nesta segunda, foram registradas novas reações sobre a situação no Irã. A Alemanha pediu à República Islâmica que respeite as manifestações "legítimas", enquanto a Turquia expressou o desejo pelo "retorno à calma o mais rápido possível" ao país vizinho. Já a França disse estar acompanhando "a situação com cuidado" e "lamenta a morte de vários manifestantes".
A agência iraniana Fars, ligada aos conservadores, afirmou que é difícil saber quando serão retiradas as restrições de acesso à internet. A medida que provocou as manifestações implica um aumento do preço da gasolina de 50% para os primeiros 60 litros comprados a cada mês — de 10.000 a 15.000 riais (11 centavos de euro) — e de 300% para os litros adicionais.
As autoridades afirmam que a arrecadação com o aumento vai beneficiar os 60 milhões de iranianos mais desfavorecidos, sobre uma população total de 83 milhões.
No domingo, o presidente iraniano Hassan Rohani afirmou que o Estado não deve permitir a insegurança diante dos distúrbios.
— Manifestar seu descontentamento é um direito, a manifestação é uma coisa, e o distúrbio é outra — declarou Rohani em um conselho de ministros, segundo comunicado da presidência.