Os 27 sócios do Reino Unido na União Europeia (UE) aprovaram nesta segunda-feira (28) uma prorrogação "flexível" da data do divórcio entre o país e o bloco até 31 de janeiro, anunciou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.
"Os 27 concordaram em aceitar a solicitação do Reino Unido de um adiamento flexível do Brexit até 31 de janeiro", escreveu Tusk no Twitter, algumas horas antes de uma votação no parlamento britânico sobre a demanda de eleições antecipadas.
A decisão, que deve ser formalizada por "escrito", prevê que o Reino Unido pode sair antes — no fim de novembro, dezembro ou janeiro —, desde que a ratificação tenha sido concluída, segundo o rascunho do texto ao qual a agência AFP teve acesso.
O acordo afasta a possibilidade de um Brexit sem acordo em 31 de outubro, uma das exigências dos trabalhistas britânicos para apoiar a demanda do primeiro-ministro, Boris Johnson, de celebrar eleições antecipadas em 12 de dezembro.
Os europeus recordam na decisão sua recusa em retomar as negociações sobre o acordo de divórcio, concluído com Johnson em 17 de outubro, e a necessidade de o Reino Unido apresentar um candidato a comissário europeu ao continuar como integrante do bloco.
De janeiro não passa
No entanto, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson pediu à UE nesta segunda que descarte "outro adiamento após 31 de janeiro", em carta em que respondeu aos 27 países da UE. O governo britânico apresentou uma moção para a realização de eleições antecipadas ainda nesta segunda-feira à Câmara dos Comuns.
— Mas se o Parlamento resistir e não adotar a moção, quero pedir que os Estados membros da União Europeia indiquem claramente que não é possível outro adiamento (do Brexit) após 31 de janeiro — afirmou Boris Johnson ao presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk. O Parlamento resistiu, derrubando a moção de novas eleições.
O negociador europeu Michel Barnier se declarou muito feliz com a decisão adotada pelos embaixadores, que deve ser aprovada por Londres antes que a UE a formalize por escrito, explicou uma fonte europeia. Na sexta-feira, os embaixadores decidiram adiar sua decisão sobre a prorrogação e aguardar a votação do Parlamento sobre as eleições antecipadas solicitadas pelo primeiro-ministro britânico.
Os contatos, no entanto, prosseguiram durante o fim de semana. Johnson conversou no domingo com o presidente francês, Emmanuel Macron, que nos últimos dias teve a posição mais crítica na UE sobre um adiamento prolongado.
— As condições da extensão foram detalhadas e reforçadas, especialmente sobre o caráter não renegociável do acordo — afirmou uma fonte diplomática francesa pouco antes do anúncio do acordo sobre o adiamento.
Desta maneira, os europeus destacam em sua decisão a recusa em renegociar o acordo concluído com o chefe de Governo britânico em 17 de outubro e a necessidade do Reino Unido apresentar um candidato a comissário europeu ao continuar como integrante do bloco.
Mais uma derrota no Parlamento
A aprovação do terceiro adiamento do Brexit poderia ajudar o primeiro-ministro britânico a obter o apoio da Câmara dos Comuns para sua demanda por eleições legislativas antecipadas, para 12 de dezembro, mas o pedido foi rejeitado novamente pelo parlamento.
O líder trabalhista Jeremy Corbyn havia exigido o afastamento do cenário de um Brexit sem acordo, temido pelo setor econômico, no dia 31 de outubro, para apoiar a votação antecipada, que precisa dos votos de dois terços da Câmara. Os liberais-democratas e os nacionalistas escoceses, também na oposição, anunciaram a intenção de propor uma emenda para convocar eleições em 9 de dezembro, no caso de um adiamento do Brexit para janeiro.
Se a ideia prosperar, os dois partidos impediriam que Johnson aprovasse a lei sobre o acordo do Brexit antes da dissolução do Parlamento, um cenário desfavorável para um primeiro-ministro decidido a retirar o país da UE.
Os parlamentares já impediram nas últimas semanas os planos eleitorais de Johnson. Na semana passada, o Parlamento respaldou o acordo com a União Europeia, mas rejeitou a tramitação com urgência. O governante conservador perdeu a maioria que apoiava seu governo na Câmara dos Comuns e novas eleições permitiriam retomar a margem de manobra, em um momento no qual as pesquisas apontam a vantagem de Johnson sobre a oposição trabalhista.
Mais de três anos depois do referendo em que os britânicos decidiram acabar com mais de quatro décadas de adesão ao bloco europeu, o Reino Unido ainda procura a porta de saída, que parece cada vez mais próxima.