O líder do grupo extremista autointitulado Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al Bagdadi, morreu durante um ataque militar dos Estados Unidos na Síria, confirmou o presidente norte-americano Donald Trump, neste domingo (27).
De acordo com o anuncio, o terrorista teria se matado com a explosão de um colete, ao lado de três crianças.
Conforme o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que tem uma ampla rede de informantes no terreno, comandos norte-americanos foram deixados de helicópteros na província de Idlib (noroeste sírio), em uma área onde estavam "grupos próximos ao EI". "A operação tinha como alvos altos dirigentes do EI", disse a ONG.
Na manhã deste domingo (27), combatentes do grupo Hayat Tahrir Al Sham (HTS), outrora o braço sírio da Al Qaeda, tomaram posições em torno de uma casa em ruínas, situada no meio de um olival em Barisha, perto da fronteira turca.
Alguns jornalistas, entre eles um correspondente da AFP, puderem se aproximar brevemente das ruínas desta casa, totalmente destruída.
Mazlum Abdi, chefe das Forças Democráticas Sírias (FDS), dominadas pelos combatentes curdos — aliados de Washington na luta contra o EI —, disse no Twitter que a operação foi resultado de um trabalho "conjunto de informação com os Estados Unidos".
A Turquia — que também realizou uma ofensiva contra os curdos no norte da Síria — afirmou neste domingo que houve uma "coordenação" e "troca de informações" entre Ancara e Washington antes da operação.
Foi a maior operação contra um dirigente jihadista desde a morte, em 2 de maior de 2011, de Osama Bin Laden, líder da Al Qaeda abatido pelas forças especiais norte-americanas no Paquistão.
Pânico
De acordo com o OSDH, os ataques aéreos lançados contra os extremistas deixaram nove mortos em Idlib. Oito helicópteros dispararam contra uma casa e um automóvel nos arredores de Barisha, perto de Idlib, detalhou.
Um morador contactado pela AFP na zona de Barisha disse ter ouvido helicópteros e ataques de aviões poucos minutos depois da meia-noite.
— Os aviões voavam a uma altura muito baixa, provocando grande pânico entre as pessoas — relatou à AFP Ahmed al Hassaui, deslocado instalado em um dos acampamentos informais perto do Barisha. Segundo ele, "a operação durou pelo menos até as 3h30" de domingo.
— Tem uma casa destruída, barracas de campanha e um veículo civil danificado, com dois mortos dentro — contou à AFP Abdelhamid, outro morador da Barisha.
Aparição pública em 2014
Abu Bakr al Bagdadi não deu sinais de vida desde uma gravação de áudio divulgada em novembro de 2016, após o início da ofensiva iraquiana para retomar Mossul, na qual pediu para seus homens lutarem até se tornarem mártires.
Foi em Mossul a única aparição pública do líder do EI da qual se tem conhecimento, em julho de 2014, na mesquita Al Nuri.
Vestido de preto e com turbante, o extremista pediu para todos os muçulmanos lhe jurarem lealdade, após ser nomeado chefe do califado proclamado pelo EI nos extensos territórios que tinha conquistado no Iraque e na vizinha Síria.
Bagdadi, cujo verdadeiro nome é Ibrahim Awad al Badri, teria nascido em 1971 em uma família pobre da região de Bagdá. Apaixonado por futebol, fracassou em sua tentativa de ser advogado e militar, e começou a estudar teologia.
Durante a invasão norte-americana do Iraque em 2003, criou um pequeno grupo jihadista sem muito impacto, antes de ser detido na gigantesca prisão de Bucca.
Liberado por falta de provas contra ele, se uniu a um grupo de guerrilha sunita vinculado à Al Qaeda e liderou-o anos depois. Aproveitando o caos da guerra civil, seus combatentes se instalaram na Síria em 2013 e, de lá, lançaram uma ofensiva no Iraque.
O grupo, que mudou seu nome para Estado Islâmico, ocupou o lugar da Al Qaeda. Seus sucessos militares iniciais e a propaganda eficaz levaram milhares de pessoas a se alistarem em suas filas. O EI reivindicou diversos atentados violentos no mundo todo.