Em ligação telefônica realizada em julho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu ao colega ucraniano, Vladimir Zelenski, que investigasse se o ex-vice-presidente Joe Biden obstruiu investigações sobre seu filho. O trecho da conversa foi revelado pelo governo norte-americano nesta quarta-feira (25).
— Biden se gabou de ter parado a promotoria, então, se você puder investigar... Para mim, parece algo horrível — disse Trump, segundo o memorando.
Hunter Biden — filho de Joe Biden, pré-candidato à Presidência e possível rival de Trump em 2020 — é integrante do conselho de uma empresa de gás ucraniana. Trump disse a Zelenskiy que o procurador-geral dos EUA, William Barr, entraria em contato com ele sobre a reabertura da investigação na empresa em que Hunter trabalha.
— Há muita conversa sobre o filho de Biden, que Biden parou a promotoria, e muitas pessoas querem descobrir sobre isso, então tudo o que você puder fazer com o procurador-geral seria ótimo — disse o presidente norte-americano.
Uma semana antes do telefonema, Trump havia congelado uma ajuda de cerca de US$ 250 milhões para a Ucrânia. A oposição afirma que o republicano usou a verba para pressionar Zelenski a investigar o filho de Biden, o que a Casa Branca nega. Em 11 de setembro, portanto após a conversa, a verba foi descongelada.
A presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi, anunciou nesta terça (24) a abertura de um processo de impeachment contra o presidente Donald Trump em razão do telefonema.
— Isto é uma violação da Constituição americana — afirmou Pelosi ao anunciar a abertura do processo. — O presidente precisa ser responsabilizado. Ninguém está acima da lei — completou ela após um encontro com a bancada democrata, que tem maioria na Câmara.
Como as conversas foram descobertas
Um agente de inteligência que ouviu a conversa de Trump com o líder ucraniano um procedimento padrão nos Estados Unidos alertou as autoridades de forma anônima que o presidente teria colocado em perigo a segurança nacional.
O Congresso foi automaticamente avisado do problema, mas não recebeu detalhes.
Com isso, os deputados fizeram duas requisições ao governo: que liberasse a transcrição das conversas do presidente com Zelenski e que permitisse que o agente que ouviu a ligação, cujo nome ainda não foi divulgado, testemunhasse sobre o caso. O Senado, de maioria republicana, também fez pedido semelhante.
Trump nega pressão a presidente da Ucrânia
O presidente Trump, ao comentar a transcrição recém-divulgada, insistiu que não houve pressão.
— Foi uma carta amigável. Não houve pressão. Do jeito que vocês construíram aquela ligação, estava se encaminhando para ser uma ligação vinda do inferno — disse sobre o conteúdo tornado público nesta quarta.
O presidente qualificou a abertura do inquérito de impeachment como "a maior caça às bruxas da história americana".
— Só para você entender, é, provavelmente na história, mas na história americana — disse ele.
Presidente da Ucrânia: "A única pessoa que pode me pressionar é meu filho"
Na manhã desta quarta, antes da divulgação da transcrição da conversa, Zelenski, que está em Nova York para a Assembleia Geral da ONU, afirmou que a Ucrânia é um Estado independente e ninguém poderia pressioná-lo.
— A única pessoa que pode me pressionar é meu filho, que tem seis anos — afirmou o ucraniano.
A Ucrânia, hoje, trava uma disputa diplomática com a Rússia. O pacote temporariamente retido pelo governo Trump deveria ser investido em financiamento militar.
Apoio democrata ainda é dúvida
Até o anúncio desta terça, não estava claro se o mais recente escândalo em torno da conduta de Trump levaria Pelosi ou outros democratas importantes a concordar com o processo de impeachment. O Comitê Judiciário da Câmara já vinha investigando se deveria recomendar um impeachment contra Trump por outros assuntos, mas, até então, Pelosi questionava a força desses casos.
Os defensores do impeachment mencionam repetidamente as revelações incluindo diversos casos de possível obstrução da justiça por Trump, detalhados pela investigação da interferência da Rússia nas eleições de 2016.