A Câmara de Representantes dos Estados Unidos, controlada pela oposição democrata, aprovou, nesta terça-feira (16), uma moção de repúdio que "condena energicamente os comentários racistas do presidente Donald Trump, que tem legitimado e incrementado o medo e o ódio contra novos americanos e contra as pessoas de cor".
O voto é de valor simbólico e tem como objetivo repreender Trump e membros do Partido Republicano que defenderam as declarações do presidente.
A resolução foi firmada por quatro legisladores republicanos e 235 democratas.
Enquanto isso, Donald Trump negou nesta terça-feira (16) que os comentários agressivos que fez contra quatro congressistas democratas pertencentes a minorias tenham sido racistas.
Depois de ter aconselhado estas congressistas pertencentes a minorias, no fim de semana, a "voltarem" para seus países de origem, o presidente intensificou seus ataques na segunda-feira (15), acusando-as de "odiarem" os Estados Unidos, e nesta terça negou a existência de uma conotação preconceituosa no que falou.
"Estes tuítes não eram racistas. Não tenho nenhum osso racista no meu corpo", escreveu no Twitter o presidente americano.
Trump atacou Alexandria Ocasio-Cortez (representante de Nova York, de origem porto-riquenha), Ilhan Omar (de Minnesota, americana nascida na Somália), Ayanna Pressley (de Massachusetts, afro-americana) e Rashida Tlaib (de Michigan, de ascendência palestina).
As quatro congressistas, apelidadas como "O Esquadrão" por alguns jornais, assumiram os mandatos no início de 2019 e se destacam pela intensa atividade nas redes sociais e por posições de tendência à esquerda.
Trump se prendeu à estratégia de alimentar a controvérsia que ele mesmo criou e reiterou pela manhã, em um pronunciamento nos jardins da Casa Branca, seu posicionamento:
— Se não são felizes aqui, podem ir embora.
Em busca da releição em 2020, Trump parece mais decidido do que nunca a avivar as chamas da tensão racial para reforçar sua base eleitoral, de maioria branca, mas também para semear divisões entre seus opositores políticos.
Prudência entre os republicanos
Pela tarde, Trump recebe na Casa Branca líderes republicanos do Congresso para um encontro que buscará ter pelo menos um apoio tácito da parte deles.
Entre os republicanos com maior destaque no partido tem reinado a prudência diante dos comentários do presidente.
Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado, se mostrou neutro:
— Todos temos uma responsabilidade (...), nossas palavras são importantes — afirmou antes de acrescentar que o presidente "não é um racista".
Para Kevin McCarthy, líder dos republicanos na Câmara de Representantes, toda esta controvérsia "é só uma história política".
No domingo, Trump disse que as quatro legisladoras democratas deveriam "regressar" para seus países de origem "totalmente infestados pela criminalidade", apesar de três delas terem nascido em território americano.
Ao ser questionado na segunda se ficava preocupado que algumas pessoas pudessem considerar seus comentários racistas, Trump respondeu: "Não me preocupa, porque muita gente está de acordo comigo".
À imprensa, as quatro congressistas destacaram que o debate político deve se concentrar em questões como a cobertura de saúde, ou imigração, particularmente no sensível tema dos solicitantes de refúgio na fronteira com o México.
"Mentes e líderes fracos discutem sobre lealdade ao nosso país para evitar perguntas e debates sobre suas políticas", disse Ocasio-Cortez.
Trump "não sabe como defender suas políticas, então, o que faz é nos atacar em nível pessoal. É disso que se trata tudo isso", explicou.
Já Tlaib disse que os tuítes e as declarações de Trump são apenas "uma continuação de seu roteiro xenófobo e racista".
Declarações "vis e ofensivas"
Para o ex-senador republicano pelo Arizona Jeff Flake, que já entrou várias vezes em rota de colisão com Trump, o silêncio do partido não pode ser justificado.
"Muitas vezes eu disse que os representantes republicanos não podem responder por todas declarações do presidente, mas há momentos em que os comentários do presidente são tão vis e tão ofensivos que os próprios republicanos deveriam dar uma resposta condenando-os", publicou no Twitter.
Chuck Schumer, líder da minoria democrata no Senado, também criticou o silêncio entre os republicanos.
"Me pergunto se o silêncio de muitos republicanos perante esses tuítes xenofóbicos é por causa da vergonha ou porque eles concordam com ele. Tanto a vergonha quanto a concordância são igualmente indesculpáveis", disse.
Para Joe Biden, vice-presidente de Obama durante oito anos e atual pré-candidato democrata à Casa Branca, nenhum chefe de Estado americano "foi tão abertamente racista como este homem".