Ex-presidente, senadora e candidata a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner enfrentou nesta terça-feira (21) a primeira audiência de um julgamento por suposta corrupção que será realizada paralelamente à campanha para as eleições de outubro próximo.
Kirchner, uma advogada de 66 anos que governou a Argentina em dois períodos (2007-2011 e 2011-2015), enfrenta doze processos por suposta corrupção e cinco pedidos de prisão preventiva, dos quais ela está isenta devido a sua imunidade parlamentar.
A ex-presidente chegou à sede do tribunal pouco antes de meio-dia, o horário previsto para o início da audiência. Militantes de sua corrente de esquerda do peronismo a apoiaram quando ela deixou seu apartamento no elegante bairro de Recoleta, em Buenos Aires.
Sem fazer qualquer declaração, Kirchner sentou-se na última fila dos réus, cercada por seus advogados. Parlamentares de seu partido, Frente para a Vitória, e lideranças de organizações de defesa dos direitos humanos, como Mães e Avós da Praça de Maio, a acompanharam entre o público.
A audiência, dedicada exclusivamente à leitura das acusações, durou três horas. O tribunal convocou outra sessão para o próximo dia 27 de maio, na qual continuará com a leitura do expediente acusatório, que tem mais de 600 páginas.
Ao sair do tribunal, Kirchner sorriu e acenou brevemente para um grupo de apoiadores que a aguardavam na rua.
O causo conhecido como Vialidad é a primeiro que chega a julgamento oral e a previsão é de que ele deverá se estender por aproximadamente um ano, com audiências semanais.
O caso diz respeito ao suposto favorecimento ao empresário Lázaro Báez, ligado à família Kirchner, na concessão de licitações de obras públicas.
Segundo o processo, muitas das obras se situavam na província de Santa Cruz (sul), de onde era oriundo seu marido, o já falecido ex-presidente Néstor Kirchner, e foram pagas, mas não terminadas, além de terem sido superfaturadas.
Além do próprio Lázaro Báez, o ex-ministro do Planejamento, Julio de Vido, e o ex-secretário de Obras Públicas, José López, ambos detidos, também são acusados neste caso.
- Cortina de fumaça -
Kirchner, que no fim de semana surpreendeu os argentinos com o anúncio de que vai optar pela vice-presidência em uma fórmula liderada por seu ex-chefe de gabinete Alberto Fernandez, argumenta que os processos judiciais contra ela são "perseguição política" que serve como distração para a grave crise econômica do país sul-americano.
"Claramente, não se trata de fazer justiça, apenas montar uma nova cortina de fumaça que visa a distrair argentinos e argentinas - cada vez com menos sucesso - da situação dramática que nosso país e nosso povo estão experimentando", disse ela na terça-feira em mensagem através de redes sociais.
- Outras causas -
Entre os processos, a acusação mais séria que pesa sobre Kirchner é a mencionada no caso conhecido como "Os cadernos de corrupção", ainda em fase de investigação, que trata de supostos subornos a empresários no valor de mais de 160 milhões de dólares em pastas cheias de dinheiro.
Por essa razão, suas três residências foram revistadas no ano passado: uma no departamento em Buenos Aires e duas casas na região da Patagônia.
Kirchner também aguarda a data de mais um julgamento em que é acusada de lavagem de dinheiro junto a seus filhos Máximo, deputado, e Florencia, cineasta.
* AFP