A eleição da primeira prefeita negra e lésbica de Chicago e a ascensão de um candidato presidencial gay mostram que na política dos Estados Unidos, pelo menos entre os democratas, o movimento LGBTQ foi totalmente aceito.
Outra candidata lésbica acaba de conquistar a prefeitura de Madison, em Wisconsin, enquanto um terceiro foi ao segundo turno para ser o vereador de Kansas City, no Missouri.
As recentes vitórias acontecem depois de uma mudança constante nas atitudes culturais que impulsaram candidatos homossexuais nos Estados Unidos em 2018, inclusive enquanto o governo de Donald Trump eliminava proteções à comunidade LGBTQ.
O número de eleitos abertamente homossexuais em todo o país quase duplicou no ano passado, chegando a 682, segundo o Victory Fund, que apoia a eleição de candidatos LGBTQ.
O grupo deu suporte a Lori Lightfoot, que venceu a disputa pela prefeitura de Chicago, apesar de nunca ter ocupado um cargo público. Os jovens americanos estão nos "observando, e estão vendo o começo de algo bom, um pouco diferente", disse Lightfoot em seu discurso de vitória, na quarta-feira (3):
_ Não importa quem você ama, desde que ame.
Essa aceitação está se estendendo em todo o país, empoderando a comunidade que tradicionalmente tinha pouca representação na política dos Estados Unidos, onde a orientação sexual e os valores familiares frequentemente geram debate.
Em 2006, as pesquisas mostraram que a maioria dos americanos se sentia incomodada ou tinha dúvidas sobre um candidato presidencial gay. Segundo pesquisa da NBC News desta semana, atualmente, cerca de 68% estão entusiasmados ou satisfeitos com um candidato LGBTQ.
O Congresso, atualmente, tem um número histórico de membros abertamente lésbicas, gays ou bissexuais: oito na Câmara dos Representantes, com 435 cadeiras, e dois no Senado, de cem integrantes.
Em novembro passado, Jared Polis, de Colorado, se tornou o primeiro governador eleito abertamente homossexual.
_ À medida que a nação aceita mais as pessoas LGBTQ, os votantes se focam menos na orientação sexual e na identidade de gênero e mais em suas posições e suas visões para o futuro, e tendem a gostar do que veem _ disse à AFP Elliot Imse, do Victory Fund.
Embora os americanos LGBTQ representem 4,5% da população, eles têm somente 0,1% dos cargos eleitos em todo o país, alertou.
A mudança nas atitudes dos americanos é particularmente uma boa notícia para Pete Buttigieg, o prefeito de 37 anos de South Bend, em Indiana, e uma estrela ascendente na corrida presidencial. Buttigieg, um graduado de Harvard que deixou o cargo de prefeito por sete meses para servir no Afeganistão como oficial de inteligência da Marinha (e foi eleito para um segundo mandato), é abertamente gay e tem falado cordialmente sobre seu casamento com Chasten Glezman.
Como os eleitores sabem que ele será firme no que se refere às questões de igualdade, Buttigieg ficará livre para abordar preocupações sobre economia, mudanças climáticas e política externa. Ele disse que espera o dia em que ser gay seja visto como o aspecto menos interessante de um político.
Pouco espaço entre
os republicanos
Congressistas homossexuais estiveram no Partido Republicano no passado, mas a falta de um legislador abertamente LGBTQ no Congresso é evidente, à medida que Trump se tornou o primeiro candidato de seu partido a mencionar os direitos dos homossexuais em seu discurso de aceitação de seu nomeação.
Com sua nomeação como embaixador na Alemanha, Richard Grenell se tornou no ano passado o funcionário abertamente gay de mais alto escalão na administração republicana.
Imse disse que Trump se cercou de funcionários cujo viés anti-LGBT impulsionou a agenda, incluindo o movimento para proibir o acesso de pessoas transgênero a cargos militares, recuos das proteções de Barack Obama para os trabalhadores LGBTQ e apoio ao direito das empresas de não contratar casais homossexuais em nome da religião.
Vice-presidente de Trump, o conservador Mike Pence se opôs agressivamente como legislador tanto ao aborto como aos direitos LGBTQ, tornando-se um herói da direita religiosa. Pence foi governador de Indiana durante os primeiros anos de Buttigieg na prefeitura, e os dois tiveram embates por questões sociais.