Um novo capítulo começa nesta quinta-feira (3) na política americana, com a inauguração de um Congresso que reflete a divisão do país e promete fazer um claro contrapeso a Donald Trump.
Este novo Congresso, recordista em número de mulheres e de representantes provenientes de minorias, assumiu suas funções depois do meio-dia local (15h de Brasília).
Sob aplausos, o vice-presidente Mike Pence empossou os novos senadores na Câmara Alta, onde 53 republicanos vão controlar a maioria contra 45 democratas, que terão 235 dos 435 assentos contra 199 de republicanos na Câmara baixa.
Após dois anos governando com maioria em ambas as Casas, o presidente republicano agora terá de negociar com os democratas que recuperaram a Câmara de Representantes.
Neste ciclo eleitoral, uma das figuras centrais será a democrata Nancy Pelosi, de 78 anos, que nesta quinta-feira foi eleita líder da Câmara dos Representantes, um cargo que ocupou entre 2007 y 2011.
Pelosi chegou ao Capitólio com um vestido de cor fúcsia e um sorriso emocionado antes de se submeter à votação do plenário que a confirmou no terceiro cargo mais importante dos Estados Unidos, depois do presidente e do vice.
O novo Congresso terá uma vocação unificadora e vai "debater e fazer avançar as boas ideias, sem importar de onde venham", disse Pelosi, segundo trechos de seu discurso, pulicados antecipadamente.
"Não temos ilusões de que nosso trabalho vai ser fácil, isso é algo no qual todos concordamos nesta Câmara", disse Pelosi, ao aceitar o cargo.
Pelosi convidou seus netos para subir à bancada no momento do juramento, ampliando posteriormente o convite a todas as crianças no local.
Sob aplausos, o vice-presidente Mike Pence empossou os novos membros do Senado, onde 53 republicanos controlarão a Casa diante de 45 democratas e dois independentes.
A perda da Câmara Baixa complica o panorama para a segunda metade do mandato de Trump e, em especial, para projetos como a construção de um muro na fronteira com o México, uma de suas principais promessas de campanha.
A posse acontece em meio a uma dura queda de braço que mantém o governo em shutdown desde 22 de dezembro pelo pedido de Trump de incluir no orçamento recursos para a construção do muro.
- O fantasma do impeachment -
Os democratas se opuseram firmemente a essa iniciativa, que tem um custo de mais de 5 bilhões de dólares e que, segundo a oposição, não é uma resposta para um tema complexo como a imigração.
Nesse ciclo eleitoral, uma das figuras centrais será Nancy Pelosi. Aos 78 anos, ela deve recuperar o papel de presidente da Câmara, cargo que ocupou entre 2007 e 2011. A decisão deve ser votada hoje em sessão plenária.
Para sair da paralisia orçamentária, os democratas propõem renovar, até 30 de setembro, os orçamentos das agências que não são alvo de qualquer polêmica e prolongar apenas até 8 de fevereiro a dotação do Departamento de Segurança Interna, pasta encarregada das fronteiras.
Qualquer proposta vai naufragar, porém, se não contar com a aprovação do Senado e, especificamente, com uma maioria de 60 votos exigida pelas leis orçamentárias.
Trump, que tem direito a veto, advertiu que manterá a situação atual "o tempo que for necessário" e convocou ambos os partidos para uma reunião na sexta-feira.
A demora na negociação torna possível buscar um acordo mais amplo que permita aos dois lados saírem vitoriosos. Uma hipótese é que os democratas concedam os recursos desejados por Trump em troca de um status para os "Dreamers" - como são chamados os jovens que chegaram aos EUA ainda bebês e em situação ilegal.
Com o controle da Câmara, os democratas poderão não apenas bloquear iniciativas do presidente, como também investigar suas finanças e cavar ainda mais fundo na investigação já em curso sobre a suspeita de conluio entre sua equipe de campanha e a Rússia em 2016. Ainda que sem muitas chance de sucesso, esse cenário aumenta a possibilidade do início de um processo de impeachment.
Até agora, Pelosi disse ser contrária a lançar um processo de destituição contra Trump, mas os democratas podem agitar o clima político, concretizando sua promessa de exigir do presidente que apresente sua declaração de renda, por exemplo.
- Os novos rostos -
O novo Congresso é o que tem o maior número de hispânicos de toda história, a maioria deles democrata.
Além disso, marca a chegada de uma nova geração de políticos, mais distantes das elites e com origens sociais e raciais mais diversas do que na legislatura anterior.
Um dos exemplos é a democrata Alexandria Ocasio-Cortez, de origem porto-riquenha e nascida no Bronx. Com 29 anos, ela fez história ao se tornar a mulher mais jovem a ser eleita para o Congresso. Alexandria se define como socialista.
"Tem muita gente que sabe que vamos pôr a mão na boca do lobo", disse ela à imprensa em novembro. "Inclusive dentro do partido", completou.
Nessa onda de mudança, também entraram na Câmara duas indígenas: Sharice Davids e Deb Haaland, que têm a defesa do meio ambiente como uma de suas prioridades.
Os democratas já prometeram instaurar uma comissão especial para tratar da "crise climática", depois que Trump se retirou do Acordo de Paris.
* AFP