Julian Assange tentou criar um "centro de espionagem" na embaixada do Equador em Londres, afirmou neste domingo (14) o presidente equatoriano, Lenín Moreno, justificando sua decisão de retirar o asilo do fundador do WikiLeaks, que foi preso na quinta-feira (11).
Moreno, no poder desde 2017, lamentou em entrevista concedida ao jornal britânico The Guardian que o governo anterior tenha oferecido na embaixada equipamentos que permitiram a Assange "interferir nos assuntos de outros Estados".
— Não podemos permitir em nossa casa, a casa que abriu suas portas. Nos tornarmos um centro de espionagem — declarou Lenín Moreno. — Essa atividade viola as condições de asilo — acrescentou, assegurando que a decisão de retirar o asilo de Assange "não é arbitrária, mas se baseia no direito internacional".
O presidente equatoriano denunciou também a atitude "absolutamente repreensível e escandalosa" de Julian Assange na embaixada e seu "comportamento inapropriado em matéria de higiene".
O que diz a defesa
Entrevistada pela Sky News na manhã deste domingo, a adovgada de Julian Assange, Jennifer Robinson, negou as acusações, que classificou de "escandalosas".
Robson afirmou neste domingo que o fundador do WikiLeaks está disposto a cooperar com as autoridades suecas caso decidam reabrir o processo de estupro contra ele, mas que sua prioridade continua sendo evitar a extradição para os Estados Unidos.
— Estamos absolutamente felizes de responder a estas perguntas se e quando forem apresentadas — declarou Jennifer Robinson ao canal Sky News. — A questão chave no momento é (o pedido de) extradição dos Estados Unidos — completou.
Acusações
Assange foi detido na quinta-feira na embaixada do Equador, em Londres, onde havia obtido asilo há sete anos para escapar de uma ordem de detenção britânica por acusações de estupro e agressão sexual na Suécia, que ele sempre negou.
A denúncia por agressão sexual prescreveu em 2015. Já a de estupro foi arquivada pela Justiça da Suécia em maio de 2017, por falta de condições para avançar na investigação.
Mas com o anúncio da detenção de Assange, a advogada da denunciante pediu a reabertura da investigação.
O australiano de 47 anos foi detido também em relação a um pedido de extradição dos Estados Unidos, onde a Justiça o acusa de ter ajudada a ex-analista de inteligência Chelsea Manning a obter uma senha de acesso a milhares de documentos sigilosos. Este pedido será analisado pela justiça britânica em 2 de maio.
Se a Suécia solicitar sua extradição, "pediremos as mesmas garantias que já formulamos, que (Julian Assange) não seja enviado aos Estados Unidos", declarou Robinson.
A advogada explicou que seu cliente buscou refúgio na embaixada do Equador ante a falta de tais garantias.
Visita de deputados
Mais de 70 parlamentares britânicos assinaram uma carta enviada ao Ministério do Interior na qual pedem prioridade a uma possível ordem de extradição sueca.
— Julian nunca se preocupou em enfrentar a justiça britânica ou a justiça sueca — disse Robinson. — Este caso é e sempre foi sobre sua preocupação de ser enviado para a injustiça americana — completou.
O presidente equatoriano declarou ao The Guardian ter recebido "garantias escritas" de Londres de que Julian Assange não será extraditado a um país em que ele possa ser vítima de tortura, de maus tratos ou condenado à pena de morte.
Segundo o WikiLeaks, a cônsul australiana visitará na segunda-feira (15) o embaixador do Equador em Londres, Jaime Marchán.
A eurodeputada espanhola Ana Miranda (do grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia) e dois deputados alemães do partido de esquerda Die Linke, Heike Hansel e Sevim Dagdelen, chegarão a Londres nesta segunda-feira, quando devem visitar Julian Assange na embaixada do Equador, informaram o Die Linke e o WikiLeaks.