O cardeal e arcebispo francês Philippe Barbarin, uma das principais figuras da Igreja católica em seu país, foi condenado nesta quinta-feira a seis meses de prisão com suspensão da pena por não ter denunciado um padre pedófilo de sua diocese
Pouco depois do anúncio da Justiça, o cardeal anunciou que vai apresentar sua demissão ao papa em "alguns dias". "Decidi ir ver o Santo Padre para apresentar minha demissão. Ele me receberá em alguns dias", declarou à imprensa, depois de ter "tomado nota da decisão do tribunal".
"Independentemente do meu futuro pessoal, quero reiterar toda a minha compaixão para com as vítimas", acrescentou.
Barbarin, que não compareceu ao tribunal correcional de Lyon para ouvir a sentença, foi declarado culpado por não ter denunciado os abusos contra um menor de idade entre 2014 e 2015.
Os advogados devem apresentar um recurso contra a sentença.
"A motivação do tribunal não me convence. Portanto, vamos apelar contra a decisão por todas as vias existentes do direito", disse Jean-Félix Luciani.
"A responsabilidade e a culpa do cardeal foram demonstradas com esta sentença. É um símbolo extraordinário", afirmou Yves Sauvayre, um dos advogados das partes civis.
Barbarin, de 68 anos, foi levado à justiça por um grupo de vítimas por não ter denunciado os abusos cometidos pelo padre Bernard Preynat nas décadas de 1980 e 1990.
Ele foi julgado ao lado de outros cinco ex-membros de sua diocese no momento em que a Igreja católica é abalada por escândalos de pedofilia em diversos países, o que provocou uma crise histórica de credibilidade.
Os cinco coacusados foram declarados inocentes, porque os supostos delitos prescreveram ou porque não conseguiram ser comprovados.
Barbarin corria o risco de receber uma pena máxima de três anos de prisão e uma multa de até 45.000 euros (54.000 dólares).
Outras duas figuras importantes na Igreja católica da França foram condenadas por ter acobertado casos de pedofilia: o bispo de Bayeux-Lisieux, Pierre Rican, em 2001, e o ex-bispo de Orléans, André Fort, ano passado.
O resultado do julgamento era muito aguardado na França. O escândalo dos abusos cometidos na dioceses de Lyon virou o tema de um filme que está em cartaz atualmente.
"Não vejo do que sou culpado", declarou Barbarin ao tribunal em 7 de janeiro. "Nunca tentei esconder e muito menos acobertar estes atos horríveis".
O caso foi revelado em 2015, depois que várias vítimas, ex-escoteiros, apresentaram ações legais contra o padre Bernard Preynat, que será processado em outro julgamento.
As vítimas também denunciaram Barbarin por não ter procurado a justiça, apesar de estar a par dos fato.
Francois Devaux, um dos demandantes e cofundador de uma associação de vítimas, celebrou a sentença, que considerou uma "grande vitória para a proteção das crianças".
Devaux foi uma das 85 vítimas do padre Preynat.
O cardeal espanhol Luis Ladaria Ferrer, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, também deveria ter sentado no banco dos réus, mas o Vaticano invocou sua imunidade.
As vítimas acusam o espanhol de cumplicidade: Barbarin o consultou sobre o caso do padre em 2015 e Ladaria recomendou que o afastasse do cargo discretamente.
No mês passado, durante uma reunião contra a pedofilia, o papa Francisco se comprometeu a adotar "medidas concretas e eficazes" contra esta "praga" que abalou a instituição.
* AFP