O presidente Jair Bolsonaro, em visita a Israel, anunciou, neste domingo (31), a abertura de um escritório comercial em Jerusalém, além da assinatura de seis acordos de cooperação.
Bolsonaro fez o anúncio sobre o escritório ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que está há quase 13 anos no poder e busca um quinto mandato nas eleições legislativas de 9 de abril.
"Agora há pouco, tomamos a decisão final, ouvindo o nosso general Augusto Heleno, de abrir, em Jerusalém, um escritório de negócios voltado para ciência, tecnologia e inovação", declarou Bolsonaro em uma coletiva de imprensa conjunta com o premiê israelense, referindo-se ao seu ministro do Gabinete de Segurança Institucional.
"Vou contar um segredo: espero que esse seja o primeiro passo em direção à abertura, quando for a hora, de uma embaixada do Brasil em Jerusalém", afirmou Netanyahu.
A transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém foi anunciada por Bolsonaro desde sua campanha eleitoral.
Mas o presidente brasileiro sugeriu esta semana que não tomaria essa decisão - que deve causar irritação nos seus parceiros comerciais árabes. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, "levou nove meses para decidir" a transferência da embaixada americana para a Cidade Santa, disse Bolsonaro.
De acordo com analistas, Bolsonaro precisa pesar o risco de perder apoio da influente bancada evangélica se adiar a transferência da sede diplomática ou de perder mercados nos países árabes caso cumpra a promessa, irritando seus aliados do agronegócio. O Brasil é o maior exportador mundial de carne halal.
Além da abertura do escritório, eles também assinaram seis acordos de cooperação na tarde deste domingo no gabinete do primeiro-ministro israelense, tratando de defesa, segurança e cooperação tecnológica.
"Estamos fazendo história", disse Netanyahu, que recebeu o presidente brasileiro aos pés do avião, no aeroporto Ben Gourion, em Tel Aviv. "Uma nova era está se abrindo nas relações entre nossos dois países", acrescentou.
Por sua vez, Bolsonaro assegurou que seu "governo está firmemente determinado a fortalecer a cooperação entre o Brasil e Israel".
Mais tarde, Bolsonaro afirmou que o "Brasil deu uma guinada, a questão ideológica deixou de existir, buscamos ampliar nossos negócios com todo mundo", garantindo que deseja que o país "se aproxime cada vez mais do que há de melhor no mundo".
"Israel é menor que o menor dos 26 estados do Brasil, mas nos orgulhamos de ver a grandiosidade da nação israelense", ressaltou o presidente, insistindo que os acordos que serão firmados com Israel "serão muito benéficos para os nossos povos".
- Uma aliança conservadora -
Israel considera toda a cidade de Jerusalém como sua capital indivisível, enquanto os palestinos esperam que Jerusalém Oriental se torne a capital do seu futuro Estado.
Para a maioria da comunidade internacional, o status da Cidade Santa deve ser negociado entre as duas partes e as embaixadas não devem se estabelecer lá até que um acordo seja alcançado.
Netanyahu foi o primeiro chefe de governo israelense a visitar o Brasil, quando participou da cerimônia de posse do presidente de extrema direita em 1º de janeiro.
Nessa ocasião, os dois políticos confirmaram a aliança entre os dois governos, em termos de política conservadora, economia, tecnologia e cooperação agrícola.
Netanyahu, que foi um dos poucos líderes mundiais a participar da posse de Bolsonaro, saudou uma "nova fraternidade" entre os dois países.
- Possível polêmica -
Espera-se que Bolsonaro vá ao Muro das Lamentações em Jerusalém na segunda-feira, junto com Netanyahu, uma visita de natureza controversa.
Há poucos dias, o secretário de Estado americano Mike Pompeo tornou-se a primeira autoridade do alto escalão a visitar este local, localizado em Jerusalém Oriental, anexado por Israel.
Segundo os observadores, isso poderia ser interpretado como um reconhecimento tácito da soberania de Israel sobre o local, um dos lugares sagrados do judaísmo localizado no setor da cidade de maioria palestina.
O conjunto em torno do Muro das Lamentações é conhecido como Esplanada das Mesquitas ou Monte do Templo, o local mais sagrado do judaísmo, e onde também está a mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado do Islã após Meca e Medina.
Neste domingo à tarde, Netanyahu e Bolsonaro devem assinar acordos, antes de participar de um jantar.
Os dois países não detalharam ainda o cronograma ou os assuntos que serão tratados na visita, mas o Brasil deve tentar fortalecer suas exportações, principalmente de soja e carne, e fechar acordos para o uso de tecnologia de ponta israelense, especialmente na produção de água potável para o Nordeste brasileiro.
Bolsonaro, capitão da reserva do Exército, também mostrou interesse em intensificar a cooperação militar para ter acesso aos sofisticados equipamentos de defesa israelenses.
No entanto, a poucos dias das eleições legislativas israelenses, Netanyahu está sob a ameaça de ser acusado de casos de corrupção durante seus últimos dez anos no cargo.
Além disso, o ex-chefe de Estado Maior Benny Gantz aparece como um adversário perigoso para o primeiro-ministro israelense nas eleições de 9 de abril.
* AFP