SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - No primeiro dos quatro dias da visita a Israel, Jair Bolsonaro foi recebido neste domingo (31) por Binyamin Netanyahu no aeroporto, gesto raro que o primeiro-ministro israelense ofereceu a apenas outros quatro chefes de Estado em dez anos.
Netanyahu referiu-se a Bolsonaro muitas vezes como "Yair", nome de seu filho mais velho, e disse que ele encontrará em Israel um povo que ama o Brasil.
Já Bolsonaro chamou o premiê de "prezado irmão", "capitão", "paraquedista" e repetiu "ani ohev Israel" (eu amo Israel, em hebraico) três vezes.
Mas a recepção amistosa não mudou o que vinha se desenhando há semanas: Bolsonaro não cumpriu a promessa da campanha presidencial de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, movimento que impulsionaria Netanyahu a nove dias das eleições que vão definir o futuro do líder israelense.
Para frustração do premiê, Bolsonaro anunciou apenas a abertura de um "escritório, em Jerusalém, para promoção do comércio, investimentos e intercâmbio em inovação e tecnologia" --uma repartição sem status diplomático para estimular negócios entre os países.
"Saúdo a decisão de abrir (...) um escritório oficial do governo do Brasil, em Jerusalém", afirmou Netanyahu. "Espero que este seja o primeiro passo para a abertura da embaixada brasileira em Jerusalém."
Nas redes sociais, Bolsonaro escreveu que reconhecia "os vínculos históricos de Jerusalém com a identidade judaica e também que a cidade é o coração político do Estado de Israel". A frase pode ser considerada morna por quem --como Netanyahu-- gostaria de ouvir um Bolsonaro mais contundente, afirmando que Jerusalém é a capital indivisível de Israel.
Bolsonaro, pressionado para não afastar os países árabes, importantes importadores da carne brasileira, decidiu adotar uma medida que agrada um pouco os israelenses e não desagrada demais aos palestinos.
A proposta de mudar o local da embaixada, porém, contraria a tradição diplomática brasileira de seguir a orientação das Nações Unidas e esperar uma resolução do conflito entre israelenses e palestinos para definir o status de Jerusalém, que ambos os povos clamam como sua capital.
Atualmente, apenas EUA e Guatemala mudaram suas embaixadas para Jerusalém.
Nesta segunda (1º/4), o primeiro-ministro israelense tentará outra forma ganhar pontos junto a seu eleitorado. Ele acompanhará Bolsonaro no Muro das Lamentações, localizado na parte oriental de Jerusalém, que os palestinos querem como sua capital.
Ao ir com o premiê ao Muro, Bolsonaro estaria sinalizando que reconhece a soberania de Israel no território, contrariando a comunidade internacional.
Mais cedo, ao desembarcar em Tel Aviv, Bolsonaro celebrou o alinhamento a Israel. "Estivermos separados algum tempo tendo em vista um governo ideologicamente de esquerda, mas nossas origens falaram mais alto", afirmou, em referência aos governos do PT. "Felizmente retornamos o tratamento equilibrado às questões do Oriente Médio."
O presidente também mencionou a internação no hospital Albert Einstein, gerido pela comunidade judaica em São Paulo, para se recuperar do atentado a faca que sofreu durante a campanha para as eleições presidenciais, além da equipe israelense enviada para ajudar nos resgates de vítimas em Brumadinho.
O encontro também serviu para a assinatura de acordos de cooperação em seis áreas: energia, ciência e inovação, investimentos, aviação civil, segurança pública e defesa. Em inovação, por exemplo, haverá um programa para atrair startups israelenses ao Brasil e fazer chamadas conjuntas para financiar empreendedores.
A Petrobras também participará do mais recente leilão de Israel para exploração de petróleo e gás em águas israelenses no Mediterrâneo, segundo o ministro de Energia do país, Yuval Steinitz.
Do lado de fora da residência do premiê, onde os líderes jantaram, cerca de 30 pessoas protestaram contra a presença do presidente brasileiro em Israel e em repúdio a declarações de Bolsonaro que celebravam a ditadura militar no Brasil.