Na noite desta quinta-feira (17), o Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty) divulgou uma nota na qual acusa o governo do presidente Nicolás Maduro na Venezuela de ser ilegítimo e chefiar um mecanismo de "crime organizado". O Itamaraty emitiu um comunicado dando a entender que o Brasil apoiará uma "presidência interina" de Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, único poder controlado pela oposição na Venezuela.
"O sistema chefiado por Nicolás Maduro constitui um mecanismo de crime organizado. Está baseado na corrupção generalizada, no narcotráfico, no tráfico de pessoas, na lavagem de dinheiro e no terrorismo. O Brasil tudo fará para ajudar o povo venezuelano a voltar a viver em liberdade e a superar a catástrofe humanitária que hoje atravessa" afirma a nota divulgada pelo ministério.
Guaidó se declarou disposto a liderar um governo de transição que convoque eleições, alegando que a Constituição o faculta a preencher o atual vácuo no poder na Venezuela.
O presidente Jair Bolsonaro se comprometeu "a fazer tudo" para restaurar a democracia na Venezuela, ao receber em Brasília líderes da oposição venezuelana e representantes de Estados Unidos e OEA. Em mais um passo de sua crescente pressão sobre o governo de Nicolás Maduro, o líder brasileiro recebeu no Palácio do Planalto Miguel Ángel Martín, presidente do Tribunal Supremo da Venezuela no exílio, órgão nomeado pelo Parlamento e controlado pela oposição.
— Faremos tudo para que a democracia na Venezuela seja restabelecida e para que vocês possam viver em liberdade (...). Acredito que a solução chegará em breve — disse Bolsonaro durante o encontro, que contou com a participação de Gustavo Cinosi, assessor do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, e do chanceler brasileiro, Ernesto Araújo.
Araújo também recebeu em audiência outros líderes opositores venezuelanos, entre eles Julio Borges, ex-presidente do Parlamento venezuelano exilado na Colômbia, e Antonio Ledezma, ex-prefeito de Caracas instalado em Madri após escapar da prisão domiciliar na Venezuela em 2017.
O novo mandato de seis anos do presidente Nicolás Maduro, iniciado na quinta-feira passada, não é reconhecido por Estados Unidos, União Europeia e vários países da América Latina, que integram o Grupo de Lima. Esses destacamentos diplomáticos alegam que as últimas eleições foram viciadas.
Os líderes opositores agradeceram o novo papel assumido por Bolsonaro e pediram que reconheça Guaidó como presidente legítimo, para que possa convocar eleições livres.
— Pedimos que sejam reconhecidos não apenas a Assembleia Nacional e o Tribunal Supremo de Justiça no exílio, mas que se saiba que Juan Guaidó é o presidente constitucional temporário da Venezuela — declarou Ledezma.
O ex-prefeito pediu aos países da região que aprovem novas sanções contra funcionários do governo que integram a "camarilha madurista", e garantiu que este novo processo de transição não será "interrompido" por "falsos processos de diálogo".
Borges declarou que o governo Maduro está em "descalabro" e explicou que os países poderão adotar medidas relacionadas à "lavagem de dinheiro, corrupção e violação dos direitos humanos".
Sobre uma eventual intervenção militar na Venezuela, Borges recordou que a oposição sempre preferiu o "caminho da pressão e das sanções", e que foi Maduro que optou pelo "caminho da violência".
Segundo Maduro, os Estados Unidos estão coordenando um complô para gerar incidentes armados nas fronteiras da Venezuela com Brasil e Colômbia visando justificar uma intervenção militar.