
Centenas de manifestantes entraram em confronto com policiais neste sábado (1º) na Avenida Champs-Elysées, no coração de Paris, em um novo protesto dos chamados "coletes amarelos" contra o aumento dos impostos e a queda do poder aquisitivo da população.
Ao final de uma das avenidas mais turísticas do mundo, o Arco do Triunfo foi engolido por uma nuvem de fumaça, enquanto a polícia tentava dispersar a multidão com gás lacrimogêneo e canhões de água. No final da manhã, 59 pessoas haviam sido presas.
O ministro do Interior, Christophe Castaner, denunciou no Twitter a presença de "1,5 mil desordeiros (...) que vieram para criar confusão". A polícia, mobilizada em grande número para evitar os confrontos que já haviam ocorrido durante a manifestação de 24 de novembro, repeliam aqueles que tentam promover "quebra-quebra", acrescentou o ministro.
Segundo a polícia, alguns manifestantes, encapuzados e mascarados, tentaram forçar uma barreira colocada para filtrar as entradas. Eles então partiram para avenidas adjacentes, observou um jornalista da AFP. Latas de lixo foram derrubadas e queimadas.

Os manifestantes que vieram pacificamente para protestar usando o icônico "colete amarelo" fluorescente foram pegos no fogo cruzado na avenida.
Entre eles, Chantal, uma aposentada de 61 anos que tentava evitar se aproximar da confusão.
— Ele (Macron) deve descer de seu pedestal, entender que o problema não é o imposto, é o poder de compra. Todo mês eu tenho que mexer na minha poupança.
O acesso de pedestres à avenida estava sendo controlado, com verificações de identidade e buscas, e painéis de madeira foram afixados em algumas vitrines. Cerca de 5 mil agentes foram mobilizados na capital.
Reivindicações orgânicas
Desde o surgimento das primeiras manifestações dos "coletes amarelos", em meados de novembro, o governo tem lutado para responder às demandas orgânicas desse movimento nascido nas redes sociais, fora de qualquer estrutura política ou sindical.
Castaner afirmou que espera que o descontentamento do movimento "se organize".
- Em uma disputa, chega o momento que é preciso aceitar o diálogo - acrescentou.
Na sexta-feira (30), uma reunião de consulta com o primeiro-ministro Édouard Philippe fracassou: apenas dois "coletes amarelos" participaram e um deles rapidamente deixou o local por não ter conseguido que a reunião fosse transmitida ao vivo.
Quanto aos anúncios feitos esta semana por Emmanuel Macron — um dispositivo para limitar o impacto dos impostos sobre o combustível e uma "grande consulta" — irritaram mais do que convenceram. "Puro blá blá blá", reagiram vários manifestantes, alguns dos quais acampados nas estradas ou rotatórias.
— Precisamos de medidas concretas, não de fumaça — resumiu Yoann Allard, um trabalhador rural de 30 anos.
Descontentamento não diminui
Com o apoio de mais de dois terços dos franceses e depois do sucesso de uma petição "por uma queda nos preços dos combustíveis nas bombas", que ultrapassou um milhão de assinaturas, o movimento continua sua trajetória, quinze dias após seu lançamento.
As autoridades observam atentamente a magnitude dessa nova mobilização. O primeiro dia nacional, em 17 de novembro, mobilizou 282 mil pessoas e o segundo, 106 mil, incluindo 8 mil em Paris.
Sinal de um descontentamento que não desvanece, encontros desses cidadãos para os quais o fim do mês é muitas vezes difícil, são realizados em paralelo em várias outras regiões do país. Os manifestantes ocuparam, por exemplo, o pedágio de Perthus, na fronteira entre a França e a Espanha.
Na maioria presidencial, a preocupação cresce diante da rejeição expressa, a tal ponto que a ideia de uma moratória sobre o aumento dos impostos sobre os combustíveis está começando a ser debatida.
Entre a oposição, de direita e de esquerda, as posições navegam entre apoio e preocupação. O líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, deveria se manifestar em Marselha. E o chefe dos Republicanos (à direita), Laurent Wauquiez, planejava encontrar os manifestantes. A líder da extrema direita, Marine Le Pen, pediu a dissolução da Assembleia Nacional.
Este movimento começa a avançar para além das fronteiras da França: dois veículos policiais foram queimados na sexta-feira à noite em Bruxelas, no final de um protesto de cerca de 300 "coletes amarelos", o primeiro de seu tipo organizado na capital belga.