Os líderes do Fórum de Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico (APEC) não conseguiram chegar a uma declaração conjunta no final de uma cúpula em Papua Nova Guiné dominada pela guerra verbal entre os Estados Unidos e a China sobre sua influência na região.
Pela primeira vez, os líderes dos 21 países não chegaram a acordo sobre uma declaração comum devido às diferenças em relação às regras do comércio internacional entre as duas principais economias do mundo.
"Os líderes decidiram que, em vez da tradicional declaração de líderes, Papua Nova Guiné, o presidente da reunião, publique uma declaração da presidência em nome de todos os membros", disse Zhang Xialong, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China ao final de um encontro de dois dias em Port Moresby.
"Vocês sabem quem são os dois gigantes aqui", ironizou o primeiro-ministro da Papua-Nova Guiné, Peter O'Neill, aos repórteres. "O que mais eu posso dizer?", acrescentou.
Seu colega canadense, Justin Trudeau, observou que "alguns países discordam de algumas posições sobre comércio, entre outros, Estados Unidos e China".
Os Estados Unidos pediram uma declaração criticando a Organização Mundial do Comércio (OMC) e uma profunda reforma dessa organização multilateral, indicaram várias fontes.
Uma posição totalmente inaceitável para Pequim, que perderia muito no caso de uma reforma da OMC.
No entanto, as divisões em Port Moresby são um mau presságio para a cúpula do G20 programada para o final de novembro em Buenos Aires, onde o presidente chinês Xi Jinping enfrentará seu colega americano Donald Trump. .
Pequim e Washington estão engajados em uma guerra comercial potencialmente devastadora para a economia mundial, dizem especialistas.
Os desentendimentos foram refletidos nos discursos proferidos no sábado pelo presidente chinês, Xi Jinping, e pelo vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence.
Neste domingo, os 21 países membros (juntos representando 60% do PIB mundial) trabalharam em vão para conseguir uma declaração conjunta.
Durante todo o dia, fontes diplomáticas deram como certo que não haveria uma declaração comum devido à falta de consenso sobre políticas comerciais.
Pence, em um discurso em um fórum de negócios, pediu no sábado aos países da região que não cedam à diplomacia do talão de cheques da China.
"Nós não afogamos nossos aliados em um mar de dívidas", disse ele. "Nós não oprimimos, não corrompemos, não comprometemos sua independência", insistiu.
Minutos antes, o presidente chinês, estrela incontestável da cúpula na ausência de Donald Trump e do presidente russo Vladimir Putin, defendeu o titânico programa de investimento euroasiático do seu país e enfatizou que não se tratava de "uma armadilha, como alguns apresentaram" .
- 'Conversa franca' -
Apesar dos discursos inflamados, a cúpula começou tranquilamente e os líderes terminaram o dia com a tradicional foto de família, com todos usandos este ano com vistosas camisas amarelas ou vermelhas.
Xi e Pence falaram brevemente no jantar de gala.
"Falei duas vezes com o presidente Xi durante esta conferência, tivemos uma conversa franca", disse o vice-presidente aos repórteres neste domingo.
Por outro lado, Washington anunciou neste domingo um projeto conjunto com a Austrália, Japão e Nova Zelândia para acelerar a rede elétrica em Papua Nova Guiné e para que 70% da população tenham acesso a ela (em comparação com os atuais 13%).
Papua Nova Guiné é um dos palcos da guerra de influências dos Estados Unidos e da China no Pacífico.
Xi, por outro lado, inaugurou na sexta-feira em Port Moresby um "Boulevard of Independence" financiado por Pequim.
Nos últimos meses, Washington e, posteriormente, Pequim, impuseram tarifas alfandegárias punitivas sobre suas respectivas importações, mas o superávit bilateral da China só continuou quebrando recordes.
O líder chinês tornou-se um defensor do multilateralismo, atacando diretamente o "protecionismo e o unilateralismo".
Combativo, Pence respondeu que Washington não cederá às questões alfandegárias "até que a China mude seus caminhos".
Na ausência de Trump, a cúpula teve um perfil relativamente discreto e o foco foi colocado na escolha como a sede de Port Moresby, uma cidade com altas taxas de criminalidade.
Como medidas de segurança, mas também por razões logísticas, funcionários e jornalistas estão alojados em três enormes navios de cruzeiro atracados no porto, vindos da Austrália.
* AFP