O governo argentino adotará novos impostos sobre as exportações e reduzirá o tamanho do Estado pelo equilíbrio fiscal, por meio do qual busca enfrentar uma forte crise econômica, ao mesmo tempo em que renegocia um programa de ajuda de 50 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
"Temos que fazer todos os esforços para equilibrar as contas do Estado", disse o presidente Mauricio Macri em pronunciamento em rede nacional, convocando os argentinos a enfrentarem as dificuldades juntos.
Pouco depois, em entrevista coletiva, o ministro da Economia, Nicolás Dujovne, explicou que se deixa para trás a meta de déficit fiscal de 1,3% para 2019 para se comprometer com o equilíbrio fiscal a partir deste ano.
"Em 2019, queremos chegar ao equilíbrio fiscal primário. Reduzindo o déficit, reduzimos nossa necessidade de emitir dívida", declarou o ministro, que calculou a economia fiscal do ano que vem em cerca de 6 bilhões de dólares.
A meta de déficit fiscal em 2018 é de 2,7% do PIB.
Dujovne deve viajar para Washington na noite desta segunda para renegociar o pacote de ajuda do FMI. Espera-se que o organismo acelere desembolsos que estavam previstos para 2019 e 2020.
O governo indica o cenário internacional desfavorável como uma das causas da crise, particularmente a situação da Turquia e do Brasil e a guerra comercial entre Estados Unidos e China.
Contudo, também admitiu "erros próprios". "Ao tomar decisões para enfrentar este novo cenário, tomamos medidas que geraram algumas dúvidas", apontou Macri.
- Mais impostos, menos ministérios -
Entre as novas medidas, haverá uma redução no número de ministérios - atualmente são 22 - para menos da metade e novos impostos às exportações, havia antecipado o presidente minutos antes.
Essas medidas "aceleram a austeridade, mas são pequenas em relação à expectativa gerada", indica uma análise da Capital Economics.
"Vamos pedir àqueles que têm mais capacidade para contribuir, aos que exportam, que seu aporte seja maior", afirmou.
"Sabemos que é um imposto ruim, muito ruim, mas tenho de lhes pedir que entendam que é uma emergência", acrescentou.
Dujovne explicou que esse imposto será transitório. Por cada dólar exportado, será tributado um adicional de entre três e quatro pesos.
Isso significará uma arrecadação adicional de 68 bilhões de pesos (cerca de 1,7 bilhão de dólares) em 2018 e cerca de 180 bilhões (4,7 bilhões de dólares), segundo Dujovne.
"Acreditamos que seja crucial que o risco-país volte a baixar", insistiu o ministro, considerando que o esforço "está equilibrado" entre o ajuste do Estadio e o aumento de impostos sobre a exportação.
Desde abril, a Argentina tenta lidar com uma crise cambial que disparou a desvalorização da moeda, com um acumulado de 50% no ano.
Na abertura, o peso estava sendo cotado a 38,32 por dólar nesta segunda-feira, o que representa uma queda de 0,89% em relação à sexta-feira.
- 'Superar a crise' -
"Sabemos que com essa desvalorização a pobreza vai aumentar", admitiu Macri, que prometeu manter e melhorar programas de auxílio social.
A pobreza na Argentina afeta um terço de população de 40 milhões de pessoas, afirmou o próprio mandatário.
"Com essas mudanças e avanços com o Fundo, vamos começar a superar a crise, cuidando sempre dos que mais necessitaram", garantiu Macri, que definiu os últimos cinco meses como os piores de seu governo e de sua vida.
Nas últimas semanas, também disparou a projeção de inflação, para mais de 30% em 2018, e se prevê uma queda do PIB de pelo menos 1%.
Desde que assumiu em dezembro de 2015, o governo Macri promoveu um drástico corte de gastos, com a eliminação de subsídios, demissões e congelamento de contratações na administração pública, entre outras medidas de ajuste fiscal.
Também beneficiou as milionárias exportações agrícolas com um corte de impostos.
Na terça-feira, Dujovne deverá expor à diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, os detalhes do novo compromisso que a Argentina assume em troca de acelerar os desembolsos. Desde junho, já recebeu 15 bilhões de dólares e, na semana passada, outros 3 bilhões.
"Essa crise não é mais uma, tem que ser a última. Temos tudo para ir adiante", frisou Macri.
* AFP