A polícia argentina realiza, nesta quinta-feira (23), procedimentos de busca e apreensão em três imóveis da ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner (2007-2015), em Buenos Aires. O juiz Claudio Bonadio, que ordenou as buscas, é responsável pelo caso que investiga propinas milionárias em troca de contratos de obras públicas.
Inicialmente foi revistado o apartamento da ex-presidente que fica no luxuoso bairro de Recoleta. Estavam presentes várias patrulhas policiais e foi necessário um cordão de isolamento no prédio. O procedimento de busca e apreensão ainda não teve início em outras duas propriedade de Kirchner, uma em Río Gallegos e outra em El Calafate, no sul do país.
As revistas foram autorizadas pelo Senado da Argentina na noite de quarta-feira (22). O procedimento teve o aval de todos os 67 senadores presentes na sessão, inclusive a própria Cristina Kirchner. Não houve abstenções.
O juiz Bonadio solicitou as revistas pelo fato de que a ex-presidente, eleita senadora em 2017, tem foro privilegiado e, sendo assim, não pode ser detida, embora possa ser acusada e condenada.
Em carta aos diferentes blocos do Senado, divulgada na terça, Kirchner se declarou disposta a permitir a revista às suas residências, embora tenha pedido que proíbam a presença de câmeras durante o procedimento. Também solicitou que estivessem presentes seus advogados e um senador durante os procedimentos.
Esses pedidos, especialmente o de impedir a divulgação de imagens, foram apoiados por vários congressistas com o argumento de resguardo da intimidade. De acordo com os cálculos iniciais, a trama de subornos poderia implicar cerca de 160 milhões de dólares.
A ex-presidente, da corrente de centro-esquerda peronista e que sucedeu seu marido Néstor Kirchner no cargo em 2007, é a pessoa de mais alto escalão envolvida no chamado "Escândalo dos cadernos", que investiga supostos subornos de importantes empresários entre 2005 e 2015 para obter contratos de obras públicas.
A causa judicial começou há um mês, baseada em anotações feitas por um ex-motorista do Ministério de Planejamento, Oscar Centeno. De acordo com a denúncia, ele supostamente fez percursos por Buenos Aires durante 10 anos levando e trazendo sacolas carregadas de milhões de dólares.
O apartamento de Kirchner em Buenos Aires, assim como a casa presidencial de Olivos e a Casa Rosada, sede do governo, aparecem nesses cadernos como pontos de entrega das sacolas.
O juiz busca pistas sobre onde poderia ter ficado o dinheiro, aparentemente sempre recebido em espécie. As anotações do motorista logo se somaram às confissões de vários empresários detidos que decidiram ir à Justiça na condição de arrependido, assim como, recentemente, ex-funcionários do governo de Néstor (2003-2007) e Cristina Kirchner.
Além deste caso, Cristina Kirchner enfrenta outros cinco processos por suposto enriquecimento ilícito e por encobrimento de iranianos acusados pelo atentado à mutual judaica AMIA em 1994, que deixou 85 mortos e 300 feridos.