As buscas em uma casa de campo no extremo sul da Argentina, de propriedade da senadora de oposição e ex-presidente Cristina Kirchner, investigada por corrupção, em um caso que envolve empresários e ex-altos funcionários, continuavam neste sábado pelo segundo dia consecutivo, comprovou um jornalista da AFP.
Esta semana também foram alvo de procedimentos similares outras duas residências da mulher que governou a Argentina entre 2007 e 2015, após suceder o marido, o falecido ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007). Por enquanto não foi encontrado nada de importante, segundo fontes judiciais citadas pela imprensa local.
O juiz encarregado do caso, Claudio Bonadio, considera que o casal K comandava uma associação ilícita, destinada a arrecadar propinas milionárias, uma acusação à qual se somou o presidente argentino, Mauricio Macri.
Kirchner reagiu e disse esta semana ser uma perseguida política do macrismo, ao qual acusou de montar "um show midiático", enquanto a população sofre com "políticas econômicas horríveis".
A residência revistada é uma casa de dois andares na localidade de El Calafate, na Paragônia. A casa com jardim fica próxima da geleira Perito Moreno, uma das atrações turísticas do país, 2.000 km a sudoeste de Buenos Aires.
- Buscas em paredes e nos pisos -
Batalhões de funcionários judiciais e policiais fazem as buscas, equipados inclusive com escâneres para buscar dentro das paredes ou dos pisos.
Estes procedimentos são realizados depois que o Senado deu luz verde a um pedido da Justiça para fazer buscas nas residências de Kirchner, um passo necessário devido ao foro privilegiado da senadora, que também votou a favor da medida.
As buscas no apartamento de Kirchner em Buenos Aires durou 13 horas entre a quinta e a sexta-feiras. A segunda operação foi na casa da família em Río Gallegos, também na Patagônia, a 300 Km de El Calafate.
"O dinheiro da corrupção explica todas as coisas que nos faltam (no país)", disse Macri na sexta-feira.
Ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1980, Adolfo Pérez Esquivel afirmou neste sábado que "desatou-se em todo o continente a criminalização e a perseguição das frentes políticas populares" em Argentina, Brasil e Equador.
Um informe judicial oficial reportou na sexta-feira que na investigação foram tomados até agora "52 depoimentos indagatórios, tendo conseguido a detenção de 26 pessoas, 11 das quais foram postas em liberdade, subsistindo 2 pessoas com ordem de captura".
"Entre os acusados, 17 depuseram como arrependidos, e 15 deles assinaram acordos que foram homologados pelo juizado e serão beneficiados com uma redução de pena", indicou o documento.
Entre os grandes empresários envolvidos, estão magnatas de obras públicas e da indústria, como Paolo Rocca (Techint). Entre os arrependidos está um executivo da empresa espanhola Isolux.
As investigações começaram em 2 de agosto quando o juiz Bonadio chamou para depor Oscar Centeno, motorista de um ex-ministro de Kirchner, para interrogá-lo sobre o conteúdo de cadernos nos quais, durante mais de uma década, anotou as viagens que fez levando milhões de dólares de supostas propinas de empresários para altos funcionários. Ex-militar expulso do Exército, Centeno está em liberdade sob custódia.
* AFP