As autoridades da Nicarágua capturaram centenas de pessoas de forma arbitrária", apenas por sua participação nos protestos contra o governo de Daniel Ortega, denunciaram nesta segunda-feira organismos de direitos humanos.
Trabalhadores, estudantes e famílias inteiras são vítimas de perseguição, captura ou sequestro por participar das marchas opositoras ou ter um gesto humanitário com os que rejeitam o governo, segundo o Centro Nicaraguense dos Direitos Humanos (Cenidh).
Entre os detidos estão a líder do Movimento Estudantil de Masaya, Cristian Fajardo, e a universitária Valeska Sandoval, que se refugiou na Igreja Divina Misericórdia de Manágua durante o ataque de paramilitares à Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua (UNAN) em 14 de julho.
A diretora Executiva do Cenidh, Marlin Sierra, disse que o número de detidos é incerto porque muitos são presos e depois soltos, mas ocorrem outras detenções.
Segundo o Cenidh, a onda de protestos iniciada em 18 de abril já deixou 292 mortos, incluindo 20 policiais e 30 paramilitares ligados ao governo.
A Comissão Permanente de Direitos Humanos (CPDH) recebeu denúncias de familiares de 150 pessoas capturadas e de um número semelhante de "sequestrados".
A Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (ANPDH) recebeu denúncias sobre cerca de 700 detidos.
"Imploramos em nome de Deus que se detenha a caça destes jovens (...). Não é possível criminalizar o povo por protestar e tratá-lo como terrorista", disse em sua homilia de domingo o arcebispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez.
Em meio à onda de protestos contra o governo, o Parlamento controlado por Ortega aprovou na semana passada uma polêmica lei que pune com entre 15 e 20 anos de prisão os envolvidos em atividades contra o governo.
O secretário da ANPDH, Álvaro Leiva, qualificou as detenções de "caça de jovens" por participar ou apoiar os protestos (...) ou se expressar contra o governo nas redes sociais.
Leiva considerou as detenções como "sequestros" porque os paramilitares não têm base legal para este tipo de ação.
Ortega, há onze anos no poder, enfrenta sua pior crise política, com protestos que exigem eleições antecipadas e sua saída da presidência.
* AFP