Documentos em cortes de Justiça norte-americanas mostram que crianças e adolescentes imigrantes detidos pelo governo dos EUA denunciaram abusos, agressões e que foram drogados contra a sua vontade, de acordo com a rede de TV CNN. As denúncias reveladas pela rede mostram que crianças foram drogadas com psicotrópicos, dados como vitaminas, e que alguns jovens receberam injeções forçadas de antipsicóticos e sedativos.
No Centro de Tratamento Shiloh, localizado na área rural da cidade de Manvel, Texas, um adolescente de 13 anos oriundo de El Salvador denunciou um incidente em que tentou escapar de um agente de imigração e foi agredido, ficando com hematomas. Ele protestou e recebeu a injeção de uma droga para "ficar calmo".
— Eu estava me sentindo tonto, com dificuldades de respirar. Sentia muita dor, tinha hematomas por todo o corpo, e não queria a injeção — afirmou o jovem à CNN.
Outros jovens relataram que, neste local, foram forçados a receber "vitaminas" da equipe dos centros de tratamento, sem o consentimento dos seus pais. Essas "vitaminas", de acordo com registros médicos, eram antipsicotrópicos altamente viciantes — e as injeções seriam de sedativos e antipsicóticos.
Em depoimento a uma corte do Texas, uma menina chamada Maricela, de 11 anos, afirmou que recebeu mais de 10 pílulas por dia, e não sabia para o que eram os remédios.
— Quando eu tomo um remédio, eu não sinto nada. É horrível. Eu não gosto de tomar esses remédios, e sofri dores de cabeça, perda de apetite e enjoo. Hoje, uma das crianças estava chateada e uma pessoa tentou acalmá-la, mas a professora disse: "Não fale com ela, só dê uma injeção" — declarou Maricela. Ela afirmou que tinha "medo constante" de quem trabalha em Shiloh após ser expulsa de um banheiro para que outros adolescentes recebessem injeções dentro do local.
— Eu não me sinto bem aqui. Prefiro voltar para Honduras e viver nas ruas do que continuar aqui — disse a menina, de acordo com a CNN.
A rede de TV americana também afirma que adolescentes denunciaram agressões cometidas por agentes de imigração no Shenandoah Valley Juvenile Center, no estado da Virgínia. O centro seria exclusivo para jovens migrantes "perigosos", e um dos denunciantes, chamado pela CNN de "John Doe 2", foi transferido para lá por "problemas de comportamento". Registros médicos da casa de detenção mostram que ele teria déficit de atenção e transtorno de ansiedade.
— Eles pegavam minhas mãos e colocavam atrás das costas, para que eu não me mexesse. Às vezes, usavam canetas para espetar minhas costas, pegavam minha mandíbula com as suas mãos. Todos eram maiores do que eu. Às vezes, eram três ou quatro me pegando ao mesmo tempo, e deixaram hematomas nos meus pulsos, nas costelas e no ombro. Os médicos me davam ibuprofeno para passar a dor — declarou a vítima à CNN.
No mesmo lugar, adolescentes eram presos com algemas e amarrados a cadeiras, com máscaras fechadas com pequenos buracos apenas para respirar. Esse castigo estava descrito em outras cinco declarações feitas por crianças, de acordo com a CNN. Uma delas afirmou que foi presa nua na cadeira por mais de dois dias.
O Shenandoah Valley Juvenile Center declarou às cortes americanas que usa confinamento e restrições de liberdade quando os residentes "lutam uns contra os outros, ou contra o pessoal do local", e admitiu que usa "uma cadeira de restrição emergencial" como último recurso contra o comportamento agressivo. A organização falou para a CNN que as reclamações "não têm mérito" e espera ter a oportunidade de apresentar provas que "vão mostrar a mesma conclusão para o júri".
Os 26 locais de "tratamento" onde são apreendidos crianças e adolescentes pegos na imigração receberam mais de US$ 1 bilhão em recursos federais no ano de 2017, segundo a CNN. O centro de Shenandoah recebeu US$ 20 milhões entre os anos de 2014 e 2018, entre as administrações Obama e Trump.