Foi durante um pedido de perdão em nome da Igreja Católica que Papa Francisco fez o que pode ser considerada uma das declarações mais progressista de seu papado até então. Em conversa com o chileno Juan Carlos Cruz, 54 anos, uma das três vítima de pedofilia cometida pelo bispo Fernando Karadima, o líder religioso pediu que ele se tranquilizasse em relação à sua homossexualidade.
— Juan Carlos, que você é gay não importa. Deus te fez assim e ele te ama assim, e eu não me importo. O Papa quer você assim, você tem que ser feliz com quem você é — incentivou o Papa.
Os bastidores da conversa realizada na semana passada entre Papa Francisco e o chileno foram publicados neste sábado (19) no jornal El Pais, da Espanha, que entrevistou Cruz. A questão da homossexualidade surgiu porque, na tentativa despistar as acusações contra Karadima, alguns bispos do Chile apontaram Cruz como um pervertido, que teria mentido sobre o fato de ter sido abusado.
As denúncias contra Fernando Karadima abalaram a Igreja Católica em 2010, e o bispo foi condenado pelo Vaticano a uma "vida de orações e penitências". Principal porta-voz do Vaticano, Greg Lake não confirmou ao jornal El Pais se a declaração do papa reflete com precisão a fala que teve com Cruz.
Apesar de a Igreja Católica considerar a homossexualidade um pecado, assim como todo ato sexual fora do casamento constituído por um homem e uma mulher, Papa Francisco já fez uma declaração que sinaliza uma abertura de sua parte. Em 2013, em resposta à pergunta se havia lobby gay dentro do Vaticano — ou seja, se uma linhagem assumida por parte dos mais altos postos da Igreja Católica defende um "aceno de mãos amistoso" para os homossexuais — Francisco disse que, se uma pessoa é gay, não tem direito de julgá-la.
— O problema não é ter essa orientação (sexual). Devemos ser irmãos. O problema é fazer lobby por essa orientação, ou lobbies de pessoas invejosas, lobbies políticos, lobbies maçônicos, tantos lobbies. Esse é o pior problema. Se uma pessoa é gay e procura Deus e a boa vontade divina, quem sou eu para julgá-la? — ressaltou.