O candidato conservador Mario Abdo Benítez, do governista Partido Colorado, lidera a contagem de votos nas presidenciais deste domingo (22) no Paraguai, e seus simpatizantes começaram a comemorar, enquanto o comitê de campanha de seu adversário, Efraín Alegre, do Partido Liberal, afirme que há um empate técnico.
Benítez tem 46,8% dos votos contra 42,53% para Alegre, após 75% das urnas apuradas, segundo o Tribunal Eleitoral.
Abdo Benítez, de 46 anos, filho do ex-secretário particular do ditador Alfredo Stroessner, soma até o momento 910.000 votos contra 828.500 de Alegre, que representa uma aliança de centro-esquerda.
Pouco após o fechamento das seções eleitorais, centenas de pessoas vestidas de vermelho se concentraram na rua onde fica a sede do Partido Colorado, em Assunção, onde foi montando um palanque e se ouve música.
Nenhum dos dois candidatos deu declarações até o momento.
Mais cedo, quando a contagem de votos dava vantagem a Benítez sobre Alegre por 47% a 42,4% dos votos, com 65% das urnas apuradas, o líder do Partido Liberal, Salyn Buzarquis, afirma haver um empate técnico.
"Com nossos números, vamos nos dando conta de que há um empate técnico. Vamos esperar a apuração de 100% [das urnas]. Vamos brigar voto a voto", disse à imprensa Buzarquis.
Segundo ele, nos resultados preliminares publicados até agora "não foi registrada informação de lugares estratégicos nos quais vamos ganhando de forma contundente".
A Justiça eleitoral avaliou a participação de eleitores em 65% de um total de 4.241.000 habilitados a votar de uma população de 7.000.000 de habitantes.
O vencedor desta eleição sucederá em agosto o presidente Horacio Cartes, um empresário da indústria do tabaco que, nestas eleições, candidatou-se ao Senado.
- Hegemonia colorada -
O Paraguai, que saiu de uma ditadura de 35 anos em 1989, viveu sob a hegemonia do Partido Colorado durante os últimos 70 anos, com a única exceção do governo do ex-bispo e ex-presidente de esquerda Fernando Lugo (2008-2012), que foi destituído em um julgamento político um ano antes de concluir seu mandato.
Benítez, o candidato do partido nas eleições deste ano, era o favorito das pesquisas de opinião e também aparece em primeiro lugar na pesquisa de boca de urna de empresas especializadas.
"Ganhei credenciais democráticas em minha trajetória política", declarou Abdo Benítez ao rejeitar, neste domingo, as críticas que recebe devido à proximidade de sua família com Stroessner.
Embora se distancie da ditadura lembrando que à época da derrocada de Stroessner tinha apenas 16 anos, em 2006 ele foi ao funeral do ex-ditador, que se exilou em Brasília.
"Marito", como é conhecido popularmente, estudou administração nos Estados Unidos.
Seu programa propõe manter a política econômica do presidente Horacio Cartes, baseada nas exportações agrícolas, que permitiu ao Paraguai crescer a um ritmo de 4% por ano por mais de uma década.
Também pretende realizar uma reforma do Poder Judiciário, que considera corrupto.
O Paraguai está em 135º lugar entre 180 países em um ranking de corrupção elaborado pela organização Transparência Internacional.
- Pobreza e desemprego -
Alegre, um advogado de 55 anos que começou sua atividade política em oposição à ditadura, tenta pela segunda vez chegar à presidência.
Nas últimas eleições, em 2013, nas quais teve o apoio somente de seu partido Liberal, perdeu para o atual mandatário.
Mas desta vez conseguiu reeditar a coalizão com a Frente Guasú (Frente Ampla) e outros grupos de esquerda que em 2008 tinham dado a vitória a Lugo.
Alegre promete atacar a pobreza com um impulso à economia familiar camponesa, frente aos imensos desenvolvimentos agrícolas para a exportação, e com reduções da tarifa de energia elétrica para impulsionar os investimentos na indústria e gerar empregos.
Paraguai, um país rico em hidroeletricidade mas sem saída para o mar, não consegue reduzir seu índice de pobreza na mesma velocidade em que sua economia cresce.
A pobreza afeta 26,4% da população e a informalidade atinge 40% da economia, segundo os especialistas.
"O número de pobres está ligado ao fato de que não há emprego. Só 3% das empresas no Paraguai são grandes empresas. A informalidade faz com que o índice de pobreza seja alto", disse à AFP Gladys Benegas, diretora do Instituto de Pesquisas em Competitividade do Paraguai.
* AFP