O Comando das Nações Unidas na Coreia (UNC), que supervisiona a fronteira entre Norte e Sul, divulgou nesta quarta-feira (22) imagens dramáticas da deserção de um militar norte-coreano que atravessou a fronteira no dia 13 de novembro e foi perseguido a tiros por seus colegas.
Nas imagens registradas por câmeras de segurança, é possível observar a perseguição de vários soldados norte-coreanos ao desertor, disparando inúmeras vezes, o que deixou o fugitivo gravemente ferido.
Um soldado que perseguia o desertor chegou a atravessar a linha de demarcação militar (LDM) com a Coreia do Sul, deu alguns passos e, pouco depois, recuou para o Norte. O UNC considerou o ato uma violação do acordo de armistício de 1953, que encerrou a Guerra da Coreia.
A cena, que recorda as piores imagens da Guerra Fria, aconteceu em 13 de novembro, dentro da "zona comum de segurança" (JSA) em Panmunjom, o único setor da zona desmilitarizada no qual os dois exércitos rivais permanecem frente a frente.
Recuperação
As imagens mostram o jipe dirigido pelo desertor avançando a grande velocidade por uma estrada deserta, que termina na localidade fronteiriça de Panmunjom, antes do carro parar na LDM. O militar sai do veículo e começa a correr desesperadamente em direção ao Sul, perseguido por vários soldados norte-coreanos, que abrem fogo.
Vários soldados param antes de atravessar a LDM, mas, de acordo com o coronel Chad Carroll, porta-voz do UNC, um deles cruzou a linha e deu vários passos antes de hesitar e retornar ao Norte.
Os investigadores do UNC concluíram que o exército norte-coreano violou duas vezes o armistício que acabou com a guerra da Coreia (1950-53): ao abrir fogo na direção da LDM e ao atravessar a linha de demarcação. Por este motivo, a organização "solicitou uma reunião para abordar diversas medidas para impedir tais violações no futuro".
Outras imagens mostram o momento em que militares sul-coreanos se aproximam para socorrer o desertor, gravemente ferido depois de ter sido atingido por pelo menos quatro tiros.
Os militares sul-coreanos e os americanos presentes na LDM não abriram fogo contra o outro soldado que invadiu o território, demonstrando, segundo o porta-voz do UNC, "sangue frio", já que a resposta destes soldados poderia ter provocado incidentes ainda mais graves.
— Demonstraram autodisciplina e tomaram decisões sensatas em um momento no qual a situação não estava tão clara como agora é possível observar no vídeo — disse.
Lee Cook-Jong, o médico que atendeu o desertor norte-coreano, afirmou nesta quarta-feira que o fugitivo recuperou a consciência, mas ainda deve passar vários dias na UTI.
— O paciente, que mostra sinais de depressão em consequência do estresse psicológico após duas cirurgias importantes, deve passar por vários exames por seus problemas de estresse pós-traumático — disse. — A razão que o levou a desertar, a arriscar sua vida e a desafiar os tiros foi a esperança que depositou na Coreia do Sul.
O militar norte-coreano poderia ser interrogado em quatro ou cinco dias, de acordo com a evolução de seu estado.
* AFP