A dois dias do referendo de autodeterminação proibido pela justiça espanhola, os dirigentes separatistas da Catalunha explicaram nesta sexta-feira como será celebrada a votação diante do aparato policial e judicial em torno de sua organização.
Após cinco anos pedindo a consulta sobre a independência da região de 7,5 milhões de habitantes, rejeitada reiteradamente pelo governo espanhol de Mariano Rajoy, o presidente catalão Carles Puigdemont decidiu levá-la adiante desobedecendo as proibições judiciais.
Em coletiva de imprensa, o governo regional deu alguns detalhes sobre a organização da votação, para a qual estão convocados 5,3 milhões de cidadão de uma região que representa 19% do PIB espanhol.
"Serão 2.315 colégios eleitorais, 207 deles em Barcelona e 6.949 mesas de votação", assinalou o porta-voz Jordi Turull, uma cifra muito similar aos 2.700 instalados nas eleições regionais de 2015.
Alguns serão instalados em espaços pouco habituais, como banheiros públicos ou praças onde o governo regional prevê instalar barracas para realizar a votação, elicou o porta-voz.
Os dirigentes independentistas mostraram pela primeira vez as urnas que serão utilizadas e procuradas há semanas pelos corpos de segurança: caixas de acrílico com uma tampa preta e abertura para introdução das células.
A consulta, no entanto, está cercada por incertezas: um numeroso material eleitoral foi apreendido, departamentos-chave em sua organização estão controlados de perto pela polícia, o órgão de supervisão eleitoral teve que ser dissolvido e a justiça ordenou fechar as sedes de votação.
"Sabemos que no dia 1o. de outubro haverá muitas dificuldades, mas também sabemos que diante de cada dificuldade (haverá) duas soluções", tentou tranquilizar na quinta-feira Carles Puigdemont.
- Espaços de votação -
As incógnitas são muitas: o organismo criado para supervisionar o sufrágio foi dissolvido quando seus membros receberam multas de 12.000 euros diários por desobedecer o Tribunal Constitucional e o departamento governamental encarregado de contar os votos foi registrado na semana anterior pela polícia.
Além disso, uma juíza, que investiga o governo regional por desobediência, desfalque e prevaricação, ordenou na quarta-feira às polícias na região o fechamento dos diferentes espaços (escolas, clubes e até centros de saúde) designados como pontos de votação.
A polícia regional catalã se mostrou reticente a cumprir esta instrução alegando o "mais que previsível risco de alterações na ordem público que poderia derivar" desta ação.
O ministério do Interior espanhol, que coordena o dispositivo de segurança frente a votação, insiste na necessidade de atuar por parte da polícia catalã, dependente do governo regional, mas também conta com milhares de policiais federais e guardas civis enviados como medida de reforço a essa região.
- Votar ou não votar -
A crise econômica e a decisão parcial por parte do Tribunal Constitucional de um estatuto regional aprovado em referendo em 2006 que dava mais autonomia à Catalunha fizeram crescer exponencialmente o sentimento separatista na região.
Na última pesquisa do governo regional de julho, 41,1% dos entrevistados queria a independência contra os 49,4% que eram contrários ou que não sabiam se participariam da votação ilegal e pouco transparente que nem sequer teve campanha eleitoral.
"Prefiro ficar com o que já conheço do que com o que estar por vir, porque pode ser muito bom ou muito ruim", disse Lorena Torrecillas, fisioterapeuta de 27 anos Barcelona que ainda não sabe se votará.
A firme oposição de Madri à votação parece ter mobilizado alguns votantes: segundo uma pesquisa do jornal digital eldiario.es, a participação de domingo será de 63,3% contra 52,9% prevista duas semanas atrás.
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* AFP