A oposição na Venezuela comemorou o resultado do plebiscito informal deste domingo (16), no qual 7,2 milhões de pessoas - 95% dos votantes - rejeitaram as mudanças na Constituição propostas por Nicolás Maduro. Pelo menos uma idosa morreu e outras três pessoas ficaram feridas, quando homens de moto atiraram em opositores que votavam no bairro de Catia, em Caracas.
Segundo opositores, a Constituiente proposta por Maduro tem o objetivo de adiar as eleições regionais previstas para este ano e as presidenciais do fim de 2018. O plebiscito do domingo foi convocado pelo próprio presidente Nicolas Máduro, na tentativa de respaldar as mudanças no texto.
A consulta simbólica recebeu o apoio de associações civis, da Igreja Católica, da ONU, da Organização dos Estados Americanos (OEA), dos Estados Unidos e de vários governos de América Latina e Europa. No entanto, o resultado frustrou o governo.
O comparecimento em massa às urnas foi comemorado pela oposição. A atual Constituinte é desaprovada por 70% da população. A oposição, o chavismo crítico liderado pelo procuradora-geral, Luisa Ortega, e a Igreja católica rejeitam a Constituinte por não ter havido consulta prévia.
- A Venezuela disse claramente: não queremos uma Constituinte fraudulenta e imposta. Não queremos ser Cuba - afirmou Julio Borges, presidente do parlamento dominado pela oposição.
Apesar de ter convocado o plebiscito, o governo questionou os resultados da votação e ressaltou que a consulta não é oficial, já que não conta com o aval do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado pela oposição de servir a Maduro.
Após o resultado, o presidente pediu aos adversários políticos que "não enlouqueçam" após o plebiscito e que as divergências políticas sejam resolvidas "em paz".
- Eu lhes digo, não enlouqueçam (...). Eu lhes faço um apelo para que voltem à paz, à Constituição, para que se sentem para falar. - declarou Maduro por telefone ao comando de campanha para a Constituinte. - Felicito o povo. Devemos ter consciência de que as diferenças que temos no país devem ser resolvidas na paz, com votos, e não com balas - pediu.
Vídeos divulgados pela imprensa mostram uma multidão fugindo, entre detonações e gritos de pânico, para tentar se abrigar em uma igreja próxima ao posto de votação atacado.
A vítima foi identificada como Xiomara Soledad Scott, de 61 anos. Ela morreu em um centro de votação popular no bairro de Catia. O MP descreve a morte e os feridos como "situação irregular".
Dirigentes da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) condenaram o episódio e responsabilizaram "grupos paramilitares". Segundo eles, esses grupos seriam ligados ao governo Maduro.
- Não tinha acontecido nada sério, nada grave, nenhuma tragédia a lamentar, mas Maduro e seu regime viram uma participação em massa no plebiscito e se apavoraram - declarou em entrevista coletiva a ex-deputada da oposição María Corina Machado, ao responsabilizar o presidente. - Esses grupos paramilitares agiram à vontade, sem que os corpos de segurança civis e militares agissem - completou.
O prefeito de Sucre e porta-voz da coalizão oposicionista União Democrática, Carlos Ocariz, pediu ao MP que sejam abertas investigações para determinar os responsáveis e puni-los o mais rápido possível.
O Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa (SNTP) também denunciou que o jornalista Luis Olavarrieta, do portal de notícias Caraota Digital, foi retido por desconhecidos, agredido e roubado durante os incidentes. Ele teria sido levado para um centro de saúde.
O MP venezuelano afirmou que está investigando as agressões ao jornalista e que ele recebeu cuidados médicos.
O ex-presidente da Bolívia, Jorge Quiroga, estava presente na Venezuela para acompanhar a votação e comentou o resultado do plebiscito.
- Vocês deixaram uma coisa claramente estabelecida no mundo inteiro. Os votos de milhões podem muito mais do que uma cúpula repressiva, autoritária e abusiva e hoje todos sabem disso - declarou.