Os franceses compareceram às urnas neste domingo sob intensa vigilância policial para o primeiro turno de uma eleição presidencial muito disputada e crucial para o futuro da União Europeia. A votação, que começou às 8h locais (3h de Brasília), encerrou às 20h (15h de Brasília). A votação aconteceu pela primeira vez sob estado de emergência, em um contexto de ameaça terrorista, três dias depois de um ataque em Paris.
No total, 50 mil policiais e 7 mil militares foram mobilizados para garantir a segurança em todo o território francês. Estas são as eleições mais imprevisíveis da história recente da França, com uma disputa muito acirrada entre quatro dos 11 candidatos e um elevado nível de indecisão dos votantes.
O centrista Emmanuel Macron e a líder de extrema-direita Marine Le Pen lideravam as pesquisas de intenção de voto publicadas nas sexta-feira, mas o conservador François Fillon e o candidato da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon estavam muito próximos. A diferença entre eles é tão curta que está dentro da margem de erro, o que significa que qualquer um dos quatro pode passar ao segundo turno.
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Marine Le Pen, líder da Frente Nacional (FN), de 48 anos, espera se beneficiar da onda populista que resultou na vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e no voto a favor da saída do Reino Unido da União Europeia (UE). Com um programa centrado no "patriotismo" e na "preferência nacional", Le Pen defende a saída da zona do euro e da UE, promessas que, caso cumpridas, poderiam representar um golpe fatal a um bloco já fragilizado pelo Brexit.
Emmanuel Macron, ex-ministro da Economia do presidente François Hollande, fez uma campanha com um programa abertamente europeísta e liberal, com o desejo de reativar o motor do continente. O ex-executivo do setor bancário, praticamente desconhecido há apenas três anos e que nunca disputou uma eleição, pode se tornar, aos 39 anos, o presidente mais jovem da história da França.
Até as 17h (horário local francês), 69,42% dos franceses já haviam participado do primeiro turno, que designará os dois finalistas da segunda rodada, em 7 de maio. A taxa de participação dos eleitores representa uma queda em comparação com o mesmo horário nas eleições de 2012 (70,59%), anunciou o Ministério do Interior francês.
Confira quem são os quatro principais candidatos desta eleição:
Emmanuel Macron – Há três anos, Emmanuel Macron era praticamente desconhecido. Agora, esse ex-banqueiro de negócios, formado nas escolas da elite francesa, pode ser o presidente mais jovem da história da França, aos 39 anos. Nunca havia se submetido a um cargo eletivo. Distanciou-se do socialista Hollande em agosto de 2016, após dois anos como seu ministro da Economia, para se concentrar na construção de seu próprio movimento, En Marche! (EM), com a sigla remetendo às iniciais de seu nome. A França não pode responder aos desafios do século 21 "com os mesmos homens e com as mesmas ideias", disse ele em novembro passado, no lançamento de sua candidatura, apresentando-se como uma alternativa aos políticos que governam o país há décadas. Macron diz não ser de direita nem de esquerda, ao defender ideias liberais que irritam seus pares socialistas e ao questionar os fundamentos de uma esquerda francesa ainda influenciada por uma visão marxista da economia, que vê com receio o mundo empresarial. Inspirado no modelo escandinavo, seu discurso seduz, sobretudo, os jovens dos centros urbanos e do mundo dos negócios.
Marine Le Pen – Candidata da Frente Nacional (FN), 48 anos, é filha do líder histórico da extrema-direita francesa, Jean-Marie Le Pen. Soube capitalizar a insatisfação dos franceses com o desemprego e a imigração e aproveitar a onda nacionalista na Europa. Com um programa centrado no "patriotismo" e na "preferência nacional", Le Pen espera agora desmentir as pesquisas que preveem sua derrota no segundo turno. Promete, entre outras coisas, a suspensão dos acordos de livre circulação no interior da UE, a expulsão dos estrangeiros vigiados por radicalização e a supressão do "ius soli" (nacionalidade por direito de solo de nascimento). "No fundo, se eu tivesse que me definir, acho que eu diria apenas que sou intensa, orgulhosa, fiel, evidentemente francesa. Tomo os insultos à França como se fossem contra mim diretamente", explica em seu vídeo de campanha. "Estamos em nossa casa!", repete nos discursosa. Um lema que seus adversários consideram como "um grito de xenofobia", mas que ela considera um "grito de amor" à França.
François Fillon – Com uma vontade à toda prova, o conservador François Fillon enfrenta os obstáculos à sua candidatura para a presidência apesar de um escândalo judicial que destruiu sua imagem de integridade. "Sou como um desses combatentes que não baixam a cabeça diante das balas" de seus adversários, declarou recentemente em um evento esse ex-primeiro-ministro (2007-2012) de 63 anos, que denuncia uma "conspiração" para destruir sua carreira política. Liberal que não esconde sua admiração pela "Dama de Ferro" Margaret Thatcher, Fillon era há poucos meses o grande favorito, após cinco anos de governo socialista. Mas, no final de janeiro, ele se viu envolvido em um escândalo depois de a imprensa revelar que sua esposa, Penelope, e dois de seus cinco filhos se beneficiaram de empregos supostamente fictícios. Acusado de desvio de fundos públicos e apropriação indevida de bens sociais, Fillon, que se diz inocente, se agarrou à candidatura apesar das várias deserções à sua volta e uma queda nas pesquisas. Propõe um programa radical de cortes de gastos públicos com a supressão de 500 mil vagas e a volta à semana de trabalho de 39 horas para funcionários públicos. É contra a adoção plena para casais do mesmo sexo, quer limitar a imigração "ao mínimo" e propõe retirar a nacionalidade dos extremistas franceses.
Jean-Luc Mélenchon – Orador brilhante de posições cortantes, o defensor da esquerda radical francesa, Jean-Luc Mélenchon conseguiu se posicionar entre os favoritos. Populista de esquerda para seus adversários, defensor do povo contra a oligarquia para seus seguidores, esse neto de espanhóis que nasceu em Tânger (Marrocos) começou a corrida pelo Palácio do Eliseu com o lema "França Insubmissa". As pesquisas o mostraram, na última semana, em terceiro lugar, com 20% das intenções de voto, empatado com o candidato da direita François Fillon, mas atrás da líder da extrema-direita Marine Le Pen (22%) e do independente sócio-liberal Emmanuel Macron (23%). Filósofo de formação, admirador de Hugo Chávez e do partido espanhol Podemos, Mélenchon foi membro do Partido Socialista, o grande partido de esquerda francês, durante 30 anos, antes de sair bruscamente. O "Chávez francês", como foi chamado pelo jornal conservador Le Figaro, considerava o presidente venezuelano o protagonista de um processo que abriu na América Latina "um novo ciclo para nosso século, da vitória das revoluções cidadãs". Com 65 anos, não perdeu nem um pouco seu radicalismo, mas incorporou ao seu discurso um toque de humor, deixando de lado seus conhecidos discursos raivosos. Quer tirar a França da Otan e romper com os tratados europeus.