A relação com os Estados Unidos se mantém como "prioridade máxima" para a União Europeia (UE) - concordaram os presidentes europeus nesta sexta-feira (3), em La Valetta, aproveitando a reunião para defender sua unidade frente ao presidente americano, Donald Trump.
"Não tenho dúvida de que, para todos nós, continua sendo prioridade política máxima proteger nossa relação com os Estados Unidos contra seus inimigos", declarou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.
Primeira desde a posse do presidente americano, a reunião em Malta serviu para que os 28 países-membros do bloco atenuassem as preocupações geradas com as críticas de Trump.
Ao fim do debate com os 28, Tusk considerou que, para os presidentes, "a nova situação geopolítica talvez não seja uma ameaça [como havia declarado em sua carta-convite para a cúpula], mas um desafio".
Tanto a chanceler alemã, Angela Merkel, quanto seu homólogo espanhol, Mariano Rajoy, ressaltaram as "áreas de interesse comum" com Washington, como "a luta contra o terrorismo", mas enfatizaram que a UE defenderá em todos os momentos sua unidade e sua identidade, assim como sua política comercial.
Desde sua eleição, Trump vem celebrando o Brexit e chegou a prever que outros países seguirão os passos do Reino Unido, ao mesmo tempo em que questionou a ajuda financeira a seus sócios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), se não aumentarem seu gasto militar nacional.
Além disso, aquele que provavelmente deve ser o próximo embaixador dos Estados Unidos na UE, Ted Malloch, acredita no desaparecimento do bloco e considerou o euro "uma experiência equivocada". As declarações aparecem em um entrevista que será publicada neste sábado (4) pela revista alemã Der Spiegel.
"Entre sócios, deve haver respeito. Se a Europa quis se construir, não é para que alguns lhe peçam que se desfaça", reclamou o presidente francês, François Hollande, de longe o mais crítico em relação ao sucessor de Barack Obama.
- Uma Europa a várias velocidades?
Os líderes europeus escolheram essa pequena ilha do Mediterrâneo central para enfrentar seus desafios, como a crise migratória, e continuar a reflexão iniciada em setembro passado, em Bratislava, sobre o futuro do bloco sem o Reino Unido, e que deve se encerrar em uma cúpula em março, em Roma.
"Ressaltamos que a Europa tem de agir de maneira uniforme e que temos nosso destino em nossas próprias mãos", garantiu Merkel, antes de iniciar o debate sobre o futuro da UE.
O encontro não contou com a presença da primeira-ministra britânica, Theresa May, que não foi convidada.
Na cúpula de Roma, por ocasião do 60º aniversário do projeto europeu, os membros do clube querem confirmar o novo impulso de um bloco mais "unido", baseado em uma maior segurança doméstica e uma defesa externa.
Nessa linha, os líderes europeus aprovaram a chamada "Declaração de Malta", seu plano para conter a chegada de imigrantes à Europa pela costa líbia e lutar contra os traficantes de seres humanos, reforçando sua cooperação com a Guarda Costeira líbia e com as agências da ONU no terreno.
Para Hollande, a Europa também deve organizar sua própria defesa no âmbito da Aliança Atlântica, embora deva dispor - ao mesmo tempo - de "autonomia estratégica", uma visão compartilhada por seu homólogo espanhol. Para ele, o futuro da UE passa por uma "maior integração".
Essa maior integração poderia, porém, passar por uma união de "diferentes velocidades", como disse a chanceler alemão no fim da reunião. Essa possibilidade de harmonizar as políticas em ritmos diferentes dividiu os europeus durante muito tempo.
A história recente da UE mostrou "que haverá uma União Europeia de diferentes velocidades, que nem todos participarão toda vez de todas as etapas de integração", garantiu Merkel, para quem este princípio pode ser incluído na próxima "Declaração de Roma".
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