Os congressistas republicanos preparam uma legislação para eliminar os fundos federais destinados a organizações que realizam abortos, como o Centro de Planejamento Familiar (Planned Parenthood), que tem cerca de 650 unidades em todo o país e atende 2,5 milhões de usuários. A maioria dos pacientes, no entanto, procura a entidade para fazer consultas ginecológicas ou para buscar tratamentos preventivos.
A Planned Parenthood, que acaba de completar 100 anos, é o principal alvo de uma medida republicana em estudo que visa a proibir qualquer financiamento federal para centros que praticam interrupções voluntárias de gravidez (IVE). A intenção sucede um decreto do presidente Donald Trump, que, em 23 de janeiro, assinou um decreto que limita o financiamento a ONGs estrangeiras a favor do aborto.
Em contraponto, a Planned Parenthood afirma que as IVE representam apenas 3% de seus atendimentos e que os cortes de financiamento podem ameaçar o acesso à saúde de milhões de mulheres.
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O governo de Donald Trump é um dos maiores críticos ao aborto da história moderna dos Estados Unidos. A posição conservadora é liderada pelo vice, Mike Pence.
– A vida está vencendo nos Estados Unidos – disse Pence durante uma marcha contra o aborto, em Washington, dando um claro sinal do rumo tomado pela nova administração.
O site da organização diz que são cerca de 650 centros médicos em todos os Estados Unidos e 2,5 milhões de pacientes, sendo que 1,5 milhão se beneficiam "de um tipo de seguro médico-federal" como os programas de cobertura sanitária para pessoas de baixa renda Medicaid ou Title X. Se o projeto republicano for adotado, os beneficiários desses programas não poderão mais frequentar o PP.
A Planned Parenthood conta com um orçamento de 1,3 bilhão de dólares anuais, dos quais 43% procedem de fundos governamentais. A organização também está presente na América Latina e na África por meio de associações ou centros médicos locais para proporcionar anticoncepcionais e acesso às IVE "em segurança e onde são legais".
Em 2014, 15% dos pacientes da Planned Parenthood eram negros e 23% latinos. Cerca de 54% dos centros da PP se encontram nas áreas ruais ou em zonas de carência de atendimento médico.
Em 2013, antes de um endurecimento legislativo, havia 40 centros que praticavam a IVE no Texas. Desde então, 21 fecharam. Depois disso, um estudo universitário publicado no New England Journal of Medicine constatou que a lei se traduziu em "um aumento desproporcional da taxa de nascimento entre as mulheres cobertas pelo Medicaid, provavelmente gestações não desejadas".
No condado de Scott, em Indiana – Estado em que Pence foi governador –, um centro da Planned Parenthood que fazia testes de HIV fechou por falta de financiamento.
– Como mulher, me sinto atacada – afirma Shelby Weathers enquanto espera sua vez num centro da Planned Parenthood para ser atendida. – É desanimador ver como estão tentando eliminar o acesso à saúde – acrescentou a moça de 18 anos, que recebe tratamento anticoncepcional da sede de Phoenix (Arizona).
Deanna Wambach, médica-chefe nessa sede, se declara preocupada com os cortes de fundos do governo.
– Será devastador para as mulheres. Só no Arizona atendemos a 33 mil pacientes – lamentou.