O regime sírio retomou, nesta quinta-feira, o controle total de Aleppo, a segunda cidade do país, conquistando a sua maior vitória frente aos rebeldes desde o início da guerra, em 2011.
"Graças ao sangue dos nossos mártires e aos sacrifícios das nossas valorosas forças armadas, assim como das forças auxiliares e aliadas (...), o estado-maior das forças armadas anuncia o retorno da segurança a Aleppo, após sua libertação do terrorismo e dos terroristas e da saída daqueles que ali permaneciam", anunciou o exército sírio em um comunicado.
Leia mais
Mais de 4 mil rebeldes são retirados de Aleppo nas últimas horas
Sob a neve, últimos moradores da zona rebelde de Aleppo aguardam retirada
Exército sírio pede que últimos rebeldes abandonem Aleppo
"Esta vitória representa uma guinada estratégica (...) na guerra contra o terrorismo (...), reforça a capacidade do exército sírio e seus aliados a vencer a batalha contra os grupos terroristas e estabelece as bases de uma nova fase para tirar o terrorismo de todo o território da República Árabe Síria", indica o texto.
O anúncio foi feito depois da saída do último comboio de rebeldes e civis do leste de Aleppo, ex-reduto rebelde da metrópole, que caiu após um mês de uma violenta campanha de bombardeios aéreos e terrestres.
Ao perder seu bastião, transformado em ruínas após os violentos bombardeios, os rebeldes sofreram seu pior revés desde o início da guerra.
O último comboio transportando rebeldes e civis deixou Aleppo na noite desta quinta-feira (horário local).
"Os quatro últimos ônibus transportando os terroristas e suas famílias chegaram a Ramussa", bairro do sul de Aleppo, controlado pelas tropas governamentais, indicou a TV estatal.
Um líder rebelde avaliou que a queda de Aleppo foi "uma grande perda" para os insurgentes que lutam contra o regime de Assad.
– No plano político, é uma grande perda –admitiu Yasser al Yussef, um dos líderes político do grupo rebelde Nurredin al Zinki. – Para a revolução é um período de retirada e uma reviravolta difícil – declarou à AFP.
Correspondentes da AFP ouviram disparos de comemoração na parte oeste de Aleppo ao cair da noite.
Uma vitória também para Moscou e Teerã
O exército sírio e o Hezbolá xiita libanês (aliado do regime) se mobilizaram no último reduto que a rebelião controlava e onde vão atuar os especialistas em retirada de minas, indicou à AFP o diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman.
Com esta vitória, o regime agora controla as cinco principais cidades da Síria: Aleppo, Homs, Hama, Damasco e Lattaquié. A vitória é compartilhada com seus aliados, a Rússia, que entrou no conflito em setembro de 2015, e o Irã.
Ao contrário, a tomada de Aleppo constitui um fracasso para os aliados da oposição, como as monarquias do Golfo, a Turquia e os países ocidentais, que viam nos rebeldes uma alternativa ao regime, que controla o país com mão de ferro há meio século.
Devido à rivalidade entre a Rússia e o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, a comunidade internacional paralisou diante do drama humanitário. Esta semana, o Conselho de Segurança da ONU aprovou por unanimidade a supervisão internacional das evacuações de Aleppo, quando na verdade já estavam prestes a terminar.
Combates migram para área rural
Aleppo não aderiu ao movimento opositor pró-democracia, iniciado em março de 2011. A cidade caiu na espiral da guerra civil, em julho de 2012. Durante uma ofensiva inesperada, os rebeldes penetraram e se apoderaram de mais da metade da cidade, expulsando o exército dos bairros do leste e do centro histórico.
Aleppo é uma das cidades mais antigas do mundo e passou, assim, a se tornar a principal frente do conflito sírio. A guerra civil foi ganhando complexidade ao longo dos anos, envolvendo múltiplos atores, apoiados por diferentes potências regionais e internacionais.
A cidade estava dividida em dois e desde 2012 sucederam-se os bombardeios mútuos e os combates fratricidas entre a parte rebelde e a governamental. Em setembro de 2015, com a entrada em cena da Rússia oficialmente para combater os extremistas na Síria, a situação militar começou a mudar.
Em 15 de novembro passado, o regime iniciou sua ofensiva definitiva. Ajudado por bombardeios aéreos incessantes da força aérea russa, Aleppo tornou-se uma cidade martirizada.
Entre 15 de novembro e 15 de dezembro, a operação militar custou a vida de 465 civis, entre eles 62 crianças, no leste de Aleppo, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Os rebeldes também mataram em seus bombardeios 142 civis, entre eles 42 crianças, na parte oeste.
Ao final da operação militar, um acordo apadrinhado por Rússia e Irã – aliados do regime – e por toda a Turquia, que apoia a rebelião, permitiu a saída de civis e rebeldes. Antes da guerra viviam no leste de Aleppo 250 mil pessoas.
Com esta retomada, o regime agora pode passar à luta pelas regiões rurais, a começar por Idleb (noroeste), vizinha de Aleppo, onde os rebeldes e os extremistas islâmicos formaram uma coalizão.
Desde 2011, a guerra na Síria provocou mais de 310 mil mortes.
*AFP