Foram 47 anos no comando de Cuba – e mais quase uma década oficialmente afastado do poder, mas ainda mandando. Ícone da esquerda revolucionária, Fidel Castro assumiu o governo da nação do Caribe logo após a vitória da Revolução Comunista, em 1959, e só se afastou, por uma hemorragia intestinal, em julho de 2006. Deixou formalmente a liderança em fevereiro de 2008 – mas só agora, com sua morte, sai completamente de cena.
Chamado de El Comandante, revolucionário supremo ou ditador, dependendo da ideologia de cada um, Fidel Alejandro Castro Ruz morreu aos 90 anos às 22h29min de sexta-feira no horário local (1h29min de sábado, no horário brasileiro de verão). O anúncio foi feito pelo irmão, o presidente cubano Raúl Castro, em pronunciamento na televisão estatal. Ele ainda informou que os restos mortais de Fidel serão cremados neste sábado.
– Com profunda dor, compareço para informar nosso povo e amigos da nossa América e do mundo que hoje, 25 de novembro de 2016, às 22h29min, faleceu o comandante da Revolução Cubana, Fidel Castro. Seus restos serão cremados nas primeiras horas da manhã de sábado, dia 26. A comissão organizadora dos funerais oferecerá ao povo informações detalhadas sobre a organização de homenagem póstuma que se prestará ao fundador da Revolução Cubana. Até a vitoria! – discurso Raúl.
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O golpe de misericórdia não surgiu de nenhuma nação inimiga, como os Estados Unidos. Foi resultado dos problemas de saúde que o debilitavam havia pelo menos uma década.
Formado em Direito, Fidel chegou ao poder em Cuba depois de uma campanha de guerrilhas contra o ditador Fulgencio Batista. Mas não foi na primeira tentativa. Aos 27 anos, liderou o ataque ao quartel de La Moncada, na cidade de Santiago de Cuba. Fracassou. A maioria dos companheiros foi morta. Fidel foi capturado e condenado a 15 anos de prisão. No julgamento, fez seu famoso discurso “A história me absolverá”.
Crise com EUA e popularidade
Depois de dois anos na prisão, foi perdoado e solto. Durante o exílio no México, reuniu e treinou o Movimento 26 de Julho, em alusão à data da primeira tentativa de tomada de poder. Foi lá que recebeu o apoio de Che Guevara, outra figura revolucionária mítica. Invadiram Cuba em 1956, esconderam-se nas montanhas da Sierra Maestra e conseguiram a adesão da população. Depois de três anos, finalmente tomaram o poder, com Fidel à frente.
Mas, assim que ficou claro o caráter marxista da revolução, levando à estatização de todas as propriedades (especialmente as de empresas americanas), o governo dos EUA tornou-se o mais notório adversário de Fidel. Os americanos tentaram assassiná-lo ou derrubá-lo várias vezes. A mais famosa tentativa foi a frustrada invasão da Baía dos Porcos, em 1961, por cubanos exilados treinados pela CIA.No ano seguinte, o líder esteve no centro da disputa entre as duas maiores potências do planeta na época, os EUA e a URSS que chegaram à beira de uma guerra nuclear. Mísseis soviéticos foram instalados em Cuba, a menos de 200 quilômetros do território americano, provocando uma dura reação dos EUA.
Foram justamente esses episódios – a invasão da Baía dos Porcos e a Crise dos Mísseis – que impulsionaram sua popularidade no mundo.Fidel tentou então exportar a revolução a outros países da América Latina e da África. A expansão do sistema de saúde e da educação era seu principal cartão de visitas. Porém, há inúmeros relatos de abusos dos direitos humanos contra opositores do regime.
Seriam milhares de oponentes mortos ou perseguidos. Vários brasileiros foram a Cuba nas décadas de 60 e 70 para conhecer o país e aprender técnicas de guerrilha. Diversos presidentes americanos tentaram isolar economicamente o país. Enquanto teve a URSS como aliada, Cuba se viabilizou. Remetia açúcar e recebia ajuda financeira e militar. Com o fim da URSS, no início dos anos 90, o país teve de apertar o cinto e buscar alternativas. A abertura se tornou uma imposição. Em 24 de fevereiro de 2008, doente, Fidel entregou a presidência a seu irmão, Raúl Castro, passando a se dedicar a escrever artigos em suas “reflexões”, sem nunca deixar de ser um líder influente em Cuba.
O Partido Comunista e o aparato estatal cubano prepararam-se para esse momento desde julho de 2006, quando Fidel Castro sofreu cirurgia intestinal de emergência e concedeu o comando do país ao irmão, Raúl, que permanece no comando.
Desde então, Fidel escrevia colunas ocasionais e realizava aparições públicas ocasionais. Em agosto deste ano, reapareceu em público em seu aniversário de 90 anos ao lado de Raúl e do presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
Assista ao anúncio de Raúl Castro sobre a morte de Fidel: