Por diferença de apenas um voto (50 a 49), a Câmara dos Deputados uruguaia aprovou abertura de comissão de inquérito destinada a investigar o governo daquele que é considerado a grande reserva moral da esquerda latino-americana: o ex-presidente José Mujica (2010-2015). O suposto caso de corrupção é um respingo das apurações feitas no Brasil e envolve a empreiteira OAS.
A aprovação da comissão ocorreu em razão da dissidência de um deputado da governista Frente Ampla, de esquerda. Não é a primeira denúncia contra o governo de Mujica. Dessa vez, porém, o deputado Gonzalo Mujica (que não é parente do ex-presidente) permitiu a aprovação das investigações ao dar seu voto e a maioria à oposição. Gonzalo, conforme Zero Hora apurou, é um político descontente e argumentou, aos seus colegas de partido, que as investigações devem ser abertas se não há o que esconder.
– O que houve foi o depoimento de um delator brasileiro que falou sobre dinheiro dado para o chefe da Casa Civil uruguaia. Mas não há chefe da Casa Civil no Uruguai. Haverá uns quatro ou cinco meses de investigações para se chegar a alguma conclusão – explicou o jornalista Gonzalo Terra, da TV Montecarlo.
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As investigações recairão sobre supostas irregularidades, em 2013, para a construção de planta de extração de gás operada pela empresa de energia GNLS, consórcio criado pela filial brasileira da francesa Gaz de France (atual Engie) e pela japonesa Marubeni, que contratou a OAS para a elaboração das obras.
A empreiteira, por sua vez, subcontratou diversas companhias uruguaias para diferentes tarefas. O então presidente da OAS, Léo Pinheiro, está preso em razão das investigações da Lava-Jato, por desvio de recursos da Petrobras.
– Não posso garantir que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha intermediado diretamente com o presidente José Mujica para essa transação, mas há versões insistentes que sustentam isso. O certo é que a proposta vencedora para a obra não era a mais conveniente, nem econômica, nem tecnicamente – disse o deputado Pablo Abdala, do oposicionista Partido Nacional (Blanco), que apresentou a denúncia.
A deputada Lilián Galán, da Frente Ampla (partido de Mujica e do atual presidente, Tabaré Vázquez), define a comissão como um "show midiático" e afirma não ter havido prejuízos ao erário.
Abdala, porém, sustenta que teria ocorrido distribuição de propinas e disse se basear em depoimentos à Justiça brasileira. De acordo com esses testemunhos, Fernando Pimentel,
ex-ministro do Desenvolvimento e atual governador de Minas Gerais, reuniu-se com um representante do governo uruguaio e pressionou pela contratação da OAS. O prejuízo ao erário uruguaio, afirmou o deputado, seria de US$ 65 milhões.