Olimpíada de Munique, Alemanha, 1972. Aos 20 anos, o cubano Teófilo Stevenson vai demolindo adversários no ringue como se golpeasse bonecos de isopor. Quando acerta o queixo do americano Duane Bobick e conquista a medalha de ouro, recebe a oferta de US$ 5 milhões para profissionalizar seus punhos nos EUA. Mas recusa dinheiro e fama sem hesitar:
– Prefiro os 10 milhões de aplausos da gente do meu país.
Ganhador do ouro em três jogos olímpicos seguidos – os de 1972, 1976 e 1980 –, o invencível Stevenson foi o garoto-propaganda que representou o triunfo da revolução comunista de Fidel Castro. Ao nocautear pugilistas dos EUA e da Europa, mostrava que os cubanos eram de briga. Ao rejeitar fábulas em dólares, exibia fervor patriótico, optava por ter na carteira os combalidos pesos cubanos.
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O ufanismo nos esportes olímpicos vem acompanhado de outros sucessos. No início dos anos 60, uma campanha ensina 700 mil cubanos a ler e a escrever – a chaga do analfabetismo seria posteriormente extirpada. Em abril de 1961, um dia depois de Fidel declarar o caráter socialista do regime, um grupo de 1.297 exilados simpatizantes de Fulgencio Batista, treinados pela CIA (agência de inteligência dos EUA), invade a Baía dos Porcos. São repelidos, mas o saldo horroriza: 176 mortos, mais de 300 feridos e 50 mutilados.
O gigante americano se incomoda com a insolência da pequena vizinha. Em outubro de 1962, aeronaves espiãs descobrem que Fidel permitira a instalação de mísseis nucleares soviéticos na ilha, apontados para os EUA, a menos de 150 quilômetros. Além do acinte de incrustar um governo comunista no continente, Cuba se converte em sucursal da URSS. O planeta estremece com o perigo de uma hecatombe nuclear, mas, quando a Guerra Fria (1945-1989) está prestes a ebulir, os soviéticos mandam recolher os artefatos.
As décadas de 1960 e 1970 constituem o apogeu de Cuba. Em janeiro de 1966, o país organiza a 1ª Conferência Tricontinental, que atrai movimentos de esquerda à ilha. Fidel institui o Ano da Solidariedade Revolucionária e promete ajudar grupos armados que ousem enfrentar o “imperialismo” dos EUA. O modelo cubano é exportado. Em 1967, Fidel anuncia que Che Guevara entrou na América do Sul para disseminar focos guerrilheiros. O argentino é morto nos grotões da Bolívia, mas vira o herói de grupos de esquerda, que passam a fustigar os governos latino-americanos.
Cuba torna-se o santuário dos esquerdistas. Argentinos, uruguaios, brasileiros e outros vão para lá treinar táticas de guerrilha. Especialistas viajam para conhecer os programas de educação, saúde e habitação.
Em 1971, Fidel visita o Chile, sob a presidência do socialista Salvador Allende, sendo ovacionado como líder continental. Dois anos depois, o general Augusto Pinochet derrubaria Allende, que se entrincheirou no Palácio La Moneda, a sede do governo, em Santiago, e se suicidou com uma submetralhadora presenteada pelo amigo cubano.
Por terem vencido o exército de Fulgencio Batista, os guerrilheiros cubanos são requisitados. Em 1975, Fidel envia 15 mil soldados a Angola para auxiliar o governo de Agostinho Neto nas lutas contra movimentos apoiados pela África do Sul e pelos EUA. Semanas depois, o contingente dobraria, na maior demonstração de força da ilha no Exterior.